Os moradores daquele condomínio em Santa Maria, que não se conformavam com a invasão de ratos, optaram por uma solução mais em conta. Um gato. Isso mesmo. Um gato. Mas não pense você que a escolha foi tão simples assim.
Pois bem, dizem que o cachorro é o melhor amigo do homem, e não duvido. No entanto, o homem é, certamente, o melhor amigo do rato. O quê? Não acredita? Então, pare e pense um pouco. Quem é que joga restos de comida por todos os cantos? Sim, isso mesmo! Você. E os ratos, que não são bestas, entendem isso como um convite e fazem a festa.
E lá estavam os condôminos se digladiando na reunião mensal, quando, do nada, dona Elvira, do apartamento 304, apareceu com a ideia esdrúxula para todos e genial para ninguém.
— Um gato, dona Elvira?
— Sim!
— Tá maluca? Só pode!
— E por que estaria? Ou alguém aqui duvida que gatos caçam ratos?
— Mas não é o caso, né, dona Elvira?
— Não? E por que não seria?
— Ué, já pensou se aparece aqui alguma sociedade protetora dos ratos?
— Ah, Juarez, por favor, me poupe!
— Do jeito que tem rato aqui, precisaríamos arrumar não um gato, dona Elvira, mas um tigre.
Como esperado, houve quase unanimidade em relação à proposta da mulher. Quer dizer, quase simplesmente porque ela foi a única a votar na própria ideia, sendo vencida pelos outros 23 moradores. E o destino do prédio parecia sombrio, pois os roedores se reproduziam rapidamente, como se fossem ratos. Nada mais natural, já que ratos eram.
Há um ditado que diz que é justamente nas piores ocasiões que surgem as soluções mais inovadoras. Não foi o caso, é verdade. Entretanto, não se sabe como, apareceu por ali um gato. Sim, isso mesmo! Um gato. Meio magricela, é verdade, mas um gato.
Talvez o bichano tenha sido atraído pelo farto banquete em forma de ratos. E foi ficando por ali caçando um ou outro, enquanto os mais espertos resolveram procurar outro local mais seguro.
O fato é que o Maurício fez a limpa por ali. Pois é, o felino ganhou até nome. E, hoje em dia, tem o maior prestígio entre os moradores. Tanto é que já está em pauta para a próxima reunião a compra de uma casinha para o novo condômino. Dona Elvira, afinal, estava coberta de razão.
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Eduardo Martínez é autor do livro ’57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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