Sol caiu e frio chegou.
Na tarde lenta que avança vejo na tela da TV mais cenas do genocídio em Gaza.
Crio coragem, levanto da poltrona e vou ao banheiro.
Vivo em uma pequena cabana às margens do oceano. Pousada de paz e bem simples.
Acendo a luz e dou de cara com uma enorme aranha, na parede em frente.
Ela, maior que o diâmetro de minha mão aberta, me observa impávida.
Fico estático e penso no medo de aranhas ao longo de minha infância e juventude.
Ela ali, imóvel e hipnótica.
De imediato, busco soluções:
“… dou com chinelo na cabeça dela… Mato, arregaço e joga pra fora da cabana… Nada, finjo que não vi, mijo e saio do banheiro…”
Segundos após, observo cinco aranhinhas caminhando atrás da aranha.
Aranha-mãe.
Tomo um jato d’água na alma e me ligo na noção do “viva e deixe viver”.
Abro a bragueta da calça e … um jorro dos deuses!
Nisso, a aranha-mãe segue o seu caminho com seus cincos bebês-aranhas através da janela do banheiro.
Volto aliviado para a frente da TV. Na tela o caos.
Centenas de pessoas se matando por comida em Gaza, idosos, homens e crianças, enquanto a reportagem trata tudo como normal.
Será mesmo, aranha-mãe?
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Gilberto Motta é escritor e mais um ser apavorado com os “humanos”, a cada dia respeitando mais e mais as aranhas. Vive na Guarda do Embaú SC – Agosto 2025.
