A maternidade chegou para mim quando eu já caminhava para os 40 anos. Não foi descuido nem acidente de percurso; foi escolha, ainda que cercada de hesitações e cálculos silenciosos. Hoje, com minha filha crescendo, às vezes me pego fazendo contas: quantos anos terei quando ela for adulta? Quantos aniversários dela ainda vou soprar as velas ao lado? Quantas vezes ainda vou ter forças para correr com ela no parque? Sei que a natureza é implacável em alguns aspectos, e que cada decisão que tomei, inclusive a de adiar a maternidade tardia, traz consequências inevitáveis.
Não lamento, mas confesso que penso. Gostaria de estar presente o máximo de tempo possível, como se fosse capaz de negociar com os anos uma prorrogação de contrato. Mas a vida não costuma aceitar aditivos. É preciso viver com a consciência de que o tempo é um recurso limitado, talvez o mais escasso de todos.
Curiosamente, porém, o que mais ocupa meus pensamentos não é o quanto eu estarei por perto, mas o mundo que estará diante dela quando eu já não estiver. Tento não me perder em previsões catastróficas sobre o clima, embora seja difícil escapar da sensação de que a terra anda exausta. Pergunto-me, antes, como estará a sociedade. Que valores regerão as relações humanas? As pessoas ainda terão tempo para se encontrar em praças e cozinhas ou viverão trancadas em realidades virtuais? A empatia será um bem preservado ou uma relíquia esquecida?
Imagino minha filha adulta caminhando por ruas que talvez eu não reconheça, lidando com dilemas que eu sequer consigo prever. Penso que, mais do que prolongar a minha presença, meu papel agora é oferecer raízes sólidas e asas firmes, para que, qualquer que seja o cenário, ela saiba se orientar.
No fim das contas, ser mãe com quase 40 anos me ensinou que o futuro não é uma equação exata a ser resolvida, mas uma travessia. E o que eu posso fazer, enquanto caminho ao lado dela, é oferecer amor, lucidez e coragem para que ela atravesse com firmeza, ainda que eu não esteja lá para ver a outra margem.
