Os dados sobre as religiões do Censo 2022, divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), me deixaram reflexiva. Pela primeira vez em 62 anos, o crescimento da proporção de evangélicos na população brasileira desacelerou. Ainda crescem, é verdade, mas já não no mesmo ritmo vertiginoso de décadas anteriores.
Fiquei pensando sobre os motivos dessa freada. Afinal, durante muitos anos, a expansão evangélica foi marcada por um discurso de acolhimento, transformação e compromisso com a ética cristã. O que mudou? Por que agora há um freio, uma espécie de cansaço social?
A resposta me veio com pesar, quase com dor: porque muitos que se dizem evangélicos começaram a defender o indefensável. Abandonaram os ensinamentos de Jesus para seguir falsos messias. Trocaram a cruz por armas, a graça por ganância, o amor ao próximo por discursos de ódio. Em nome de Deus, passaram a justificar milícias, rachadinhas, racismo, machismo, homofobia e a idolatria de líderes políticos corruptos. Em nome da fé, abraçaram o bolsonarismo, esse projeto de poder autoritário que nada tem de cristão.
Não estou falando aqui de todos, é claro. Seria injusto generalizar. Mas é inegável que parte significativa do movimento evangélico institucionalizado se deixou contaminar pelo poder, pela arrogância e pelo desprezo aos mais vulneráveis. Pregam prosperidade enquanto ignoram os pobres. Falam em família enquanto desprezam órfãos, viúvas e refugiados. Esquecem o Cristo que lavou os pés dos discípulos para bajular os que pisam na dignidade alheia.
Mesmo assim, eu não perdi a fé. Acredito que ainda há um remanescente fiel. Gente que, como o profeta Elias, pensa estar só, mas não está. Como está escrito em Romanos 11:5, “Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça.”
Creio nesse povo discreto, que serve sem alarde, que cuida dos outros sem câmeras por perto, que lê o Evangelho com os olhos da compaixão. Gente que entende que seguir Jesus é amar — e não dominar. Que é servir — e não manipular. Que é caminhar com os pequenos — e não se ajoelhar diante dos poderosos.
A esses, minha esperança e meu respeito. Eles são a luz que ainda brilha na escuridão.
