Descobriram que o Bolsa Família salva vidas.
Mas não por milagre.
Por prato cheio. Por gás para cozinhar. Por um pouco menos de desespero.
Por existir onde o Estado, o SUS e a dignidade às vezes não chegam.
Um estudo da Fiocruz mostrou: pessoas com transtornos mentais que recebem o Bolsa Família têm menos chance de morrer. Onze por cento a menos por causas naturais.
Sete por cento no total. Mais impacto entre mulheres e jovens de 10 a 24 anos.
Traduzindo: quando se coloca comida na mesa de quem sofre, a morte dá um passo atrás.
Quando se transfere renda, se transfere também esperança, tempo, tratamento.
Um pouco de ar para quem já respira com dificuldade.
Mas isso choca, né? Porque a elite brasileira ainda acredita que saúde mental é meditação e flor no escritório.
Não é.
É acesso, acolhimento, dinheiro pra passagem, calma pra tomar o remédio, tempo pra ser tratado sem pressa.
É um sistema que precisa parar de achar que pobre deprimido é preguiçoso, e rico em burnout é “visionário cansado”.
É parar de receitar ansiolítico e começar a distribuir justiça social.
Foucault já dizia: o controle dos corpos também se faz pelo descaso.
E Goffman gritaria, do hospício à favela: quem é estigmatizado morre duas vezes: uma no silêncio, outra nas estatísticas.
A grande descoberta da Fiocruz, no fundo, não é só médica é moral.
Um país que investe em cuidado vive mais.
Um povo que é alimentado adoece menos.
E o amor, às vezes, tem nome e sobrenome: transferência de renda.
