Meu coração não parou —
ele apenas virou relógio de areia quebrado,
um tempo que escorre sem direção,
tentando tocar, em vão, o rastro da tua última presença.
Não, eu não lamento tua ausência.
Lamento ser o eco que restou depois do som.
O corpo que se move,
mas carrega dentro de si uma sala ainda acesa, esperando passos.
O tempo…
Ah, esse velho alquimista desajeitado,
tentou me transformar em ouro,
mas virou ferrugem,
porque a dor não se recicla — apenas muda de cômodo.
Fiquei com o sol pendurado na parede,
o vento esbarrando em janelas abertas,
o cheiro do seu café repousando na xícara
como um fantasma que ainda sabe o caminho da cozinha.
Não é tua ausência que pesa.
É esta mulher que carrego nos ombros,
fragmentada, dividida entre quem ficou e quem partiu contigo,
como se cada osso meu fosse uma lembrança embutida no silêncio.
Eu sou aquilo que já teve teu nome,
sou o intervalo entre a sua partida e meu retorno que nunca aconteceu.
Sou o lugar onde você já foi… e não voltou para acender as luzes.
