Brasília voltou a respirar política com o cheiro forte de 2026 no ar. Depois de anos em que o poder parecia ter se acomodado no conforto da máquina, a cidade começa a vibrar de novo com conversas de bastidores, cafés discretos e alianças que ainda não ousam sair à luz do dia. Tudo por causa de um nome que nunca deixou de ser lembrado, mesmo quando parecia fora do jogo: José Roberto Arruda.
Com a elegibilidade restabelecida, Arruda retoma o protagonismo. E sua volta é mais que um fato jurídico. É um abalo sísmico na base que sustenta o governo Ibaneis Rocha. O ex-governador reaparece com discurso pronto, gestos calculados e o mesmo faro político que o tornou, um dia, o mais influente líder do DF. Ninguém no Buriti admite em público, mas há uma sensação silenciosa de que o jogo deixou de ser previsível.
Nos bastidores, o que se comenta é a possível reedição da chapa Arruda e Paulo Octávio. Uma dobradinha que já foi vitoriosa e que ainda desperta respeito e curiosidade. Há quem veja nesse reencontro a volta de uma era de eficiência administrativa, e quem enxergue o risco de um retorno às velhas disputas de poder que marcaram a política brasiliense.
Paulo Octávio nunca deixou o tabuleiro. Mantém presença firme no meio empresarial, trânsito entre partidos e pontes com lideranças nacionais. O PSD, partido ao qual mantém ligação direta, pode ser o eixo dessa reconstrução. A presença de seu filho André em cargos estratégicos do governo Ibaneis apenas reforça que PO continua com as mãos no volante, ainda que sob a aparência de passageiro.
Uma chapa Arruda e PO teria peso político, estrutura, memória de governo e capilaridade eleitoral. Poderia ocupar o espaço que hoje o governo tenta monopolizar, unindo segmentos empresariais, servidores públicos e parte do eleitorado mais conservador. Seria também um gesto simbólico: a reafirmação de que a velha guarda ainda sabe se reorganizar quando o poder ameaça escapar.
Nesse tabuleiro que volta a se movimentar, José Antônio Reguffe é a peça que ninguém consegue ignorar. Político de reputação ilibada, com perfil independente e discurso técnico, ele aparece como o nome capaz de dar legitimidade moral a qualquer composição. Reguffe pode ser candidato ao Senado, vice de uma chapa Arruda e PO ou até mesmo cabeça de uma aliança de centro que reúna ambos em torno de um projeto de reconstrução.
O ex-senador tem consciência de que sua imagem é valiosa e que sua presença pode ser o diferencial entre uma candidatura competitiva e uma simbólica. Enquanto Arruda oferece experiência e PO representa solidez empresarial, Reguffe entrega credibilidade e equilíbrio. Juntos, os três poderiam formar uma frente inédita, unindo gerações, estilos e públicos distintos.
O governo Ibaneis ainda controla a máquina e a narrativa da estabilidade. Celina Leão é o nome natural para a sucessão e conta com a confiança de um governador que trabalha para garantir uma transição sem traumas. Mas a volta de Arruda e os movimentos silenciosos de Paulo Octávio e Reguffe fazem o Buriti pisar em terreno movediço.
Ibaneis já admite disputar o Senado, e a hipótese de Michelle Bolsonaro também entrar na corrida torna o cenário imprevisível. Ambos têm potencial de voto alto e discurso de gestão, o que os colocaria lado a lado como representantes do mesmo campo político. No entanto, a presença de outros nomes com peso eleitoral, como Arruda, Paulo Octávio, Leila Barros, Reguffe e Érika Kokay, pode tornar a disputa mais arriscada do que o previsto.
Diante desse cenário, Ibaneis pode optar por permanecer no governo e garantir estabilidade política até o fim do mandato, evitando o confronto direto com figuras de densidade eleitoral. Essa escolha, porém, limitaria as condições de Celina Leão disputar o governo, já que ela só herdaria a caneta se o governador se afastasse para concorrer.
O que poucos admitem é que, se Arruda ou Reguffe confirmarem candidaturas competitivas, o equilíbrio de forças se rompe e a eleição do DF pode ir inevitavelmente para o segundo turno.
No outro campo, a esquerda ainda busca um rumo. Ricardo Cappelli, pelo PSB, faz manobras como um carro desgovernado para disputar o Buriti. Érika Kokay deve tentar o Senado, onde tem força orgânica e militância fiel. Já Leandro Grass enfrenta dificuldade para se impor como nome de consenso. A unidade da esquerda é o primeiro desafio. O segundo é reconquistar relevância eleitoral num cenário em que o centro-direita se reorganiza com nomes experientes e discurso de gestão.
O DF caminha para uma eleição que pode quebrar paradigmas. A volta de Arruda reabre o jogo. Paulo Octávio devolve densidade empresarial e pragmatismo político à disputa. Reguffe surge como a ponte entre o passado e o futuro, o nome capaz de unir o discurso ético à prática administrativa. Do outro lado, Ibaneis tenta equilibrar a força da máquina e o desgaste do poder. Celina busca consolidar sua identidade própria. E a esquerda ensaia uma nova narrativa de tropeçar nas próprias pernas com Cappelli e Érika.
Tudo indica que Brasília voltará a ter uma eleição com alma, daquelas em que as ruas voltam a discutir política de verdade. Arruda, PO e Reguffe são três figuras que, separadas, já mexem com o tabuleiro. Juntas, podem transformar completamente o jogo.
O poder no DF voltou a ser imprevisível. E, como se sabe, é desse tipo de incerteza que nascem as grandes reviravoltas.
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Carolina Paiva é Editora do Quadradinho em Foco
