Eu tenho um Kindle, aquele leitor de livros digitais da Amazon. Confesso que adoro. Acho prático, leve, discreto. Ele não ocupa espaço, cabe na bolsa e me permite carregar centenas de livros comigo, como se fosse uma pequena biblioteca portátil. Ler no Kindle é, de certa forma, libertador: posso ajustar o tamanho da letra, ler no escuro, sublinhar sem culpa e até procurar o significado das palavras com um simples toque. Há muitas vantagens, e eu realmente gosto dessa praticidade moderna.
Mas quem ama livros sabe que há coisas que nenhuma tela, por mais avançada que seja, consegue reproduzir. O cheiro das páginas, o peso do papel, a textura da capa, a sensação de virar cada folha. Tudo isso é insubstituível. E há ainda um tipo de livro que me encanta especialmente: os comprados em sebos. Eles carregam histórias dentro e fora das páginas. O cheiro antigo, meio amadeirado, mistura-se com o mistério do dono anterior. Sempre fico imaginando quem terá segurado aquele livro antes de mim, em que lugar ele foi lido, o que significava para aquela pessoa.
Adoro observar as marcas do tempo: uma página dobrada no canto indicando onde alguém parou a leitura ou talvez sua parte preferida; uma mancha de café, de suco ou até uma folha seca esquecida entre as páginas; um bilhete, um cartão de Natal, um ingresso antigo servindo de marcador. Cada detalhe me transporta para a vida de alguém que não conheço, mas com quem compartilho um elo silencioso através daquele mesmo exemplar.
E nada, absolutamente nada, supera as dedicatórias. Quando abro um livro usado e encontro uma frase escrita à mão, sinto como se invadisse um pequeno segredo. “Para Ana, com todo meu amor”, “Ao meu companheiro de tantas leituras”, “Que esse livro te inspire como me inspirou” — cada uma dessas mensagens abre espaço para a imaginação. Fico imaginando quem foi Ana, quem ofereceu o livro, o que aconteceu com eles depois.
O Kindle pode armazenar mil livros, mas nenhum deles vem com o cheiro do tempo nem com a caligrafia de um amor antigo. Acho que é por isso que, mesmo com toda a tecnologia, eu sigo mantendo alguns livros físicos em casa: porque há histórias que só o papel é capaz de contar.
