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Tempos de sonhos da juventude ficam cada vez mais distantes

Minha mãe ficou realmente triste com a morte de Francisco Cuoco. Vi nos olhos dela uma sombra de melancolia que não é só pelo ator em si, mas por tudo o que ele representava. Segundo ela, Cuoco era mais do que um bom ator; era um homem bonito, simpático, com um olhar que prendia a gente do outro lado da tela. Um artista que dava vida a personagens marcantes em novelas que, segundo ela mesma, “eram muito boas, de verdade, não como as de hoje”.

Ela me disse que, nos anos 1970, Francisco Cuoco e Tarcísio Meira disputavam o título de maior galã da televisão brasileira. Era uma disputa silenciosa, talvez até inexistente entre eles, mas muito real na cabeça das mulheres da época. “Tinha quem preferisse o Cuoco e tinha quem gostasse mais de Tarcísio”, ela brincou, tentando disfarçar a tristeza.

Mas eu conheço aquele jeito dela. Quando ela fala com esse tom, é porque sente mais do que diz. E acho que o que a abalou mesmo não foi só a morte de um ator, mas o lembrete de que o tempo passou. Que os rostos bonitos da juventude dela estão partindo. Que os galãs de ontem já não brilham mais na tela, nem no mundo.

A morte de Cuoco parece ter feito minha mãe lembrar da própria juventude, dos tempos em que esperava ansiosa o horário da novela, dos romances que vivia nas entrelinhas da trama, das conversas com as amigas sobre qual dos dois era mais bonito, mais charmoso, mais irresistível.

Ontem ela ficou quieta depois de ver a notícia. Não quis comentar muito. Mas percebi que, por dentro, ela estava vivendo um pequeno luto; não só por Francisco Cuoco, mas pelo tempo que ele representava. Um tempo que agora parece ainda mais distante.

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