Nesta semana que passou, a Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais. A decisão, que atinge diretamente milhões de brasileiros, chamou minha atenção não apenas pelo impacto econômico, mas sobretudo pelo movimento político que a sustentou. Em um cenário em que a polarização parece dominar todos os espaços, ver deputados de diferentes partidos, com visões tão distintas de mundo, se unirem em torno de uma pauta de interesse coletivo não é algo comum. Muito pelo contrário: é raro.
Não faz muitos dias que vimos algo semelhante no Senado. A CCJ aprovou, também por unanimidade, a rejeição da chamada PEC da Blindagem, uma proposta que vinha sendo duramente criticada pela sociedade por enfraquecer os mecanismos de combate à corrupção. É como se, de repente, o Congresso tivesse decidido enviar uma mensagem clara à população: a de que está atento ao desgaste da sua própria imagem e disposto a mostrar que pode, sim, votar a favor do interesse público.
É impossível não perceber a tentativa de reposicionamento dos parlamentares. O medo de serem associados à corrupção ou à impunidade parece mais forte do que nunca. O deputado Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), por exemplo, espalhou outdoors pela cidade afirmando, em letras garrafais: “EU VOTEI CONTRA A PEC DA BLINDAGEM”. Uma espécie de confissão pública de integridade, algo que dificilmente veríamos há alguns anos.
Fico com a sensação de que nunca antes na história recente do país os políticos estiveram tão preocupados com o julgamento de sua base eleitoral. O desgaste, o descrédito e a desconfiança popular atingiram níveis tão altos que agora até mesmo a unanimidade em votações se tornou uma estratégia de sobrevivência. No fim das contas, talvez esse medo seja um dos poucos motores capazes de aproximar nossos representantes daquilo que realmente importa: o interesse da população.
