Eu gosto de rotina. E não é pouco, não. Gosto mesmo. Gosto da previsibilidade, da sensação de que o mundo não vai desabar nas próximas seis horas — pelo menos até a hora do almoço.
Acordo todo dia no mesmo horário, como se tivesse sido programada por uma fabricante de eletrodomésticos. Às cinco da manhã: acordo. Cinco e cinco: estou na cozinha, com cara de quem sonhou que perdeu uma prova de matemática, mas pronta para o meu ritual sagrado: leite com café solúvel. Não é expresso, não é coado, não é gourmet. É solúvel. E ponto. Um abraço ao bom senso e adeus às frescuras.
Depois, vem o pão com ovos devidamente mexidos na frigideira com um bocadinho de manteiga. Sempre os mesmos dois ovos. Eu já sei exatamente o tempo que eles levam pra atingir o ponto ideal: não muito cru, não muito seco. Ovos bem comportados, que respeitam minha rotina. O pão, então, é quase meu parceiro de vida. Fiel, constante, e nunca me pergunta “o que a gente é um do outro?”
Mas não para por aí. Eu gosto da repetição. Gosto quando a tia Anete manda “Boa semana, com Deus” toda segunda-feira de manhã, junto com uma figurinha de girassol piscando. E não é ironia: eu gosto mesmo. Aquilo é o pêndulo emocional da minha semana. Se não chega a figurinha, eu fico desestabilizada. Como é que vou saber se a semana começou?
Tem também o tio João Antônio que é hiper católico e me manda mensagens religiosos, pra quem eu respondo invariavelmente com uma figurinha de amém.
Também tem o Cleidson que envia áudio sempre que vai pro trabalho. É sempre o mesmo trajeto, ele comenta o clima de São Paulo, quantos graus, se faz frio, se tem previsão de chuva etc. E eu amo. É como ouvir a abertura da novela: eu sei o que vai acontecer, mas fico ali, vidrada. Quando ele muda o assunto, inclusive, me dá uma pequena taquicardia. Eu penso: será que ele tá bem?
A verdade é que a rotina me acolhe. Ela me abraça com os dois braços e ainda me traz um cobertor quentinho. Tem gente que gosta do imprevisível, de aventuras, de “se jogar no desconhecido”.
Eu prefiro me jogar na mesma cama, com o mesmo travesseiro, depois de assistir aos mesmos cinco episódios da mesma série na companhia do meu marido. E tá tudo bem. Porque, no fundo, a previsibilidade é minha forma preferida de segurança afetiva. E leite com café solúvel é o meu afeto em estado líquido.
