Agora que o nada contigo se tornou tudo,
meus dias se curvam ao fundo dos teus olhos,
onde o mar repousa em ondas lentas,
e eu te espero como quem escuta o tempo
encostado no corrimão da ausência.
Agora que desdobraste sonhos sobre pedras,
e um arco de luz se estende entre margens,
seguras meu destino por um fio invisível,
amarrado ao teu gesto,
como promessa que não se desfaz.
Caminhamos por trilhas estreitas,
onde o vento desenha o contorno das mãos,
as tuas firmes e cálidas
como hera que se entrelaça à minha pele,
sem pressa, sem medo.
Nossas almas marcam o chão com passos entrelaçados,
sob arcos que guardam murmúrios antigos.
E as águas, em fúria e ternura,
invadem a terra com toques que não se explicam,
mas se sentem como versos que se abraçam.
Raízes brotam do fundo do oceano,
resistem às correntes que tentam desfazer o que é profundo.
Na areia, ânforas emergem
cheias de desejos que não couberam no tempo.
Na outra margem, uma lua bordada de estrelas
te espera como abrigo,
e se apenas um sopro nos separa,
espera um instante
pois já estou contigo,
na travessia que só o amor conhece.