O sol de agosto brilha forte sobre o Brasil, como se quisesse iluminar cada canto desse país de proporções continentais.
Mas, sob essa luz intensa, as sombras também se desenham, nítidas e profundas. Caminho pelas ruas de uma cidade qualquer poderia ser São Paulo, Recife, Porto Alegre, BH ou uma pequena vila no interior e vejo o Brasil de sempre: um mosaico de cores, sons, lutas e esperanças.
Em 2025, ele continua sendo o país dos contrastes, onde o caos e a beleza dançam juntos, como num samba que não sabe se é alegre ou melancólico, mas dançante.
As manchetes gritam, como de costume.
A economia, essa montanha-russa que nunca para, ora sobe com promessas de crescimento, ora despenca com o peso da inflação e da desigualdade. Fala-se de avanços: o agronegócio segue firme, exportando para o mundo, agora China, enquanto startups tecnológicas brotam em polos urbanos, sonhando com o próximo unicórnio brasileiro. Mas, ao mesmo tempo, o desemprego morde, e o custo de vida aperta. O arroz, o feijão, o café da manhã de todo dia estão mais caros, especialmente o café nosso e a dona Maria, que vende bolo na esquina, me conta que “tá difícil esticar o dinheiro até o fim do mês”. Ela sorri, porque o brasileiro sempre encontra um jeito de sorrir, mas o olhar entrega a preocupação.
Na política, o cenário é um eterno jogo de xadrez, com peças que se movem rápido demais para acompanhar. As polarizações continuam, como cicatrizes que não fecham. As redes sociais ou melhor, a X, que agora é o palco principal das discussões fervem com debates, memes e acusações. Todo mundo tem uma opinião, mas poucos têm paciência para ouvir. Ainda assim, há quem tente construir pontes. Vejo movimentos sociais, jovens nas ruas, comunidades se organizando. Eles pedem educação, saúde, justiça climática. Querem um Brasil que olhe para o futuro sem esquecer de quem ficou para trás. Mas quem se importa com este pequeno movimento?
E a Amazônia? Ah, nossa Amazônia… Ela segue lá, majestosa, mas ferida. Os alertas sobre desmatamento ecoam, enquanto o mundo nos observa com um misto de fascínio e crítica. Há esforços para preservá-la, é verdade iniciativas locais, acordos internacionais, tecnologias para monitoramento. Mas a luta é desigual, e o equilíbrio entre progresso e preservação continua sendo um dos nossos maiores desafios. Enquanto isso, o Pantanal chora com suas queimadas, e o Cerrado, tão esquecido, pede socorro em silêncio.
Será que algum governante escuta?
Mas nem tudo é sombra.
O Brasil de 2025 também pulsa com vida. O Carnaval, mesmo fora de época, ainda é a alma do povo, com blocos improvisados que transformam ruas em celebrações, o dinheiro que poderia salvar vidas, salva mesmo é a festa. O futebol, eterno amor nacional, lota estádios e bares, com torcedores gritando como se o mundo acabasse no apito final.
E a cultura? Essa não para. Novos artistas surgem, misturando samba, rap, forró e eletrônica, criando sons que só o Brasil sabe fazer.
Na literatura, no cinema, nas artes plásticas, há uma efervescência que resiste, mesmo com poucos recursos.
Novos escritores surgem trazendo maravilhas para quem gosta de ler, nomes desconhecidos surgem como remédio para almas feridas.
Enquanto caminho, penso no que nos define. Somos resilientes, sim, mas também exaustos. Somos criativos, mas muitas vezes desvalorizados. Somos um país que carrega o peso de sua história a colonização, a escravidão, as desigualdades e, ainda assim, sonha com um futuro melhor.
O Brasil de 2025 é um espelho: reflete o que somos, o que queremos ser e o que ainda precisamos mudar.
Paro num boteco, peço um café e ouço o rádio ao fundo. A música fala de amor, de saudade, do tempo da infância, das paixões proibidas e das lutas. Ai que saudade que dá viu!
O atendente, um rapaz de uns 20 anos, me diz: “Tá complicado, né, tia, mas a gente vai levando brasileiro não desiste, né?” E eu sorrio, porque ele tem razão. Entre as sombras e a luz, seguimos dançando nosso samba torto, com a esperança de que um dia a melodia seja mais leve.
