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Um Condomínio

Num país, num estado, numa cidade, numa rua, existe um condomínio. Um grande e imponente, com várias torres, muros altos e segurança 24h. Um castelo em meio ao cenário urbano.

Da rua ninguém conseguia ver o que tinha lá dentro, era tudo proposital, e por isso os muros eram tão elevados. As pessoas que viviam lá dentro não queriam ser vistas pelos que estavam de fora.

Era como uma ilha onde tudo acontecia de forma paralela à cidade em que se encontrava. Um forte para a proteção dos que lá viviam, sentiam-se seguros e a vontade para levar suas vidas pacatas.

Ali moravam os mais ricos do país, se juntaram para construir um lugar onde não precisassem passar pelos problemas do dia a dia de um centro urbano. Já que tinham tanto dinheiro e haviam se esforçado a vida toda, agora queriam aproveitar usufruindo da tranquilidade que só a grana podia comprar.

Dentro do condomínio havia, escolas, restaurantes, parques, academias, e outros luxos providos pelo acúmulo das riquezas conquistadas por seus moradores. Só existiam pessoas brancas e ricas morando lá.

Os funcionários também deviam ser brancos, era a regra do condomínio, para não gerar discrepâncias com quem morava lá. A verdade é que eles queriam esconder a pobreza e as diferenças que a riqueza que possuíam causava.

Os negros e brancos pobres trabalhavam nas empresas para gerar aquela riqueza os poucos brancos ricos, existia um risco de que ao ver os negros ou os pobres, algumas pessoas descobrissem as histórias de exploração e se juntassem numa possível reivindicação.

Aquele ambiente artificial foi todo calculado para existir da forma mais ‘’pura’’ possível.

Todo o quarteirão onde se encontrava o condomínio era murado e rodeado de grades, muito antes de chegarem nos prédios onde viviam os brancos ricos.

Um certo dia duas crianças negras estavam jogando bola em um lugar próximo ao condomínio, um deles deu um chute tão forte e alto que ultrapassou o muro do condomínio, caindo dentro do terreno proibido. Os garotos ficaram se olhando e pensando como fariam para pegar a bola.

Havia um cano saindo de um dos muros, esse cano permitia os meninos olharem para dentro e observarem se alguém passaria por ali. O lado onde a bola caiu era próximo de uma das escolas infantis, uma das crianças brancas estava correndo por ali. Os garotos negros viram o vulto passando através do cano e gritaram para dentro. O garoto branco ouviu e voltou para ver o que era aquilo.

Todos tinham uma idade próxima dos dez anos, os meninos negros chamaram o garoto branco mais uma vez. O garoto branco olhou através do cano e viu duas pessoas do outro lado, só que aquelas pessoas não eram como ele. No primeiro momento se assustou, até que um dos meninos negros falou com ele.

Ele viu que se tratava de duas pessoas, mas não tinha certeza. Eram muito diferentes dele, por isso ficou um tempo ali pensando. Lembrou de seu pai dizer que se visse algo estranho do muro para fora era para ele fugir.

O garoto branco parou de pensar e acabou por sair correndo dali, foi direto para sua professora. Contou tudo a ela, a professora acionou as autoridades, conforme o protocolo colocado para os trabalhadores daquele lugar. Logo começaram as rondas ao redor do terreno.

Os garotos negros continuavam ali para tentar encontrar sua bola perdida, quando olharam para o lado viram um guarda que os observava de cima para baixo. Os dois tentaram correr, logo outro guarda chegou por outro lado e pegou os meninos. Levaram os dois na viatura e deram um fim neles.

O garoto branco ficou com a cena dos meninos negros na cabeça, pensava que podiam existir muitas coisas fora daquele condomínio. Uma brecha no muro já havia lhe mostrado tanta coisa, imaginava se pudesse olhar por cima do muro então.

Com aquilo na cabeça o garoto chegou em casa foi correndo perguntar para sua mãe sobre o que existia além dos muros do condomínio. A mãe pega de surpresa falou que não havia nada além de animais e arvores. O garoto então perguntou se os animais também sabem falar, a mãe prontamente falou que não. O garoto volta a perguntar então o que mais tinha além do muro. A mãe se irrita por não ter uma resposta e manda o garoto ir para o quarto.

O garoto ficou no quarto até seu pai chegar em casa, a mãe quando viu que o pai havia chego comentou sobre as perguntas do filho. O pai era um magnata da indústria metalúrgica e tinha muito medo de seu filho saber sobre o mundo lá fora. Haviam criado o condomínio justamente para não haver interação dos mais ricos com os mais pobres.

O pai então vai ao quarto do filho conversar com ele, faz o garoto acreditar que ele havia imaginado tudo aquilo. Que atrás do muro só tinham animais e arvores mesmo, que ele tinha se confundido. O garoto concorda com o pai, mesmo ficando com uma pulga atrás da orelha.

Ao sair do quarto do filho o pai liga para o chefe de segurança e da um esporro nele. O chefe passa que os dois elementos foram aniquilados e que aquilo não iria se repetir. O pai desliga o telefone ainda muito nervoso se senta para jantar, tinha ficado o dia fora resolvendo problemas financeiros de suas contas nos paraísos fiscais.

O casal senta junto à mesa e começa a conversar sobre a falhas que a segurança teve, falam sobre o perigo de os negros se aproximarem do condomínio. Eles deviam ficar distantes cada vez mais. O pai ainda muito nervoso liga para outros magnatas e define uma reunião de emergência. Precisavam falar sobre o ocorrido, ter um plano para fastar ainda mais os pobres e negros.

A reunião acontece e todos decidem que as comunidades ao redor do condomínio precisam deixar de existir, que em um raio de 50 km não deveria ter nenhuma casa. Iriam desapropriar as famílias que viviam nesse raio, colocariam todos para bem longe.

Com a decisão tomada os governantes colocam o plano em ação, começam a despejar as famílias jogando todos cada vez mais para as margens daquele condomínio de luxo. Aquelas pessoas só serviam para sustentar as necessidades dos mais ricos, então precisavam do mínimo na vida, o mínimo para produzir e trabalhar.

Todo esse movimento começa a gerar um caos social, as famílias pobres começam a se rebelar por conta de tamanha injustiça. O estado fortalece a repressão e começa usar de violência contra as pessoas comuns. Emergem lideranças negras que trazem uma abordagem de emancipação popular. Querem fim aos privilégios dos brancos ricos que estão no comando, querem maior justiça para todos que vivem naquele país e naquele mundo.

Lançam a palavra de ordem: Chega de Exploração!! Morte ao Patrão!!

Quando os mais pobres começam a se organizar eles se tornam mais fortes, quanto mais fortes são o medo dos dominantes começa a crescer. Tudo isso acontecia enquanto os brancos ricos usufruíam de estar na paz curtindo suas escolas, piscinas, áreas de lazer, entre outros luxos.

Nenhum dos moradores do condomínio trabalhava, todos viviam dos rendimentos de seus negócios. Esses rendimentos serviam para viver no privilégio da calma e do lazer, sentiam que estavam naquele lugar pelo mérito conquistado.

Os governantes perdiam o controle da situação fora dos muros do condomínio, lá dentro muita informação não chegava para não gerar um medo desnecessário. A polícia e o Estado achavam que a qualquer momento tomariam as rédeas da situação, mataram as principais lideranças do movimento de negros e pobres.

Já era tarde o povo estava rebelado e só ia parar quando derrubasse os muros do condomínio e cortasse a cabeça dos magnatas. A revolução estava em marcha e não iria parara mais, o alvo estava definido e todos tinham um objetivo único.

A notícia chega até o condomínio devido às greves gerais que começaram a acontecer, isso abalou os ganhos dos mais ricos diretamente. Mesmo que eles nem fossem nas empresas que possuíam essa informação chegaria até eles. Chegou com muito atraso e quando viram o povo já havia cercado eles.

O fato de viverem numa bolha os impediu de ver a realidade diante de seus olhos. Os muros os deixaram cegos e nem perceberam a marcha dos oprimidos em sua direção.

Todo aquele aparato de segurança que haviam construído os deixou presos sem ter para onde correr. Agora era questão de tempo para os oprimidos derrubarem os muros e todos morrerem.

O sentimento de superioridade fez com que subestimassem a capacidade popular, depois disso tudo iriam sentir a fúria dos que foram explorados e tratados como animais.

Aquele condomínio deixou os inimigos do povo centralizados, assim era mais fácil identificar os alvos que deveriam ser abatidos.

Triste seria o fim dos brancos ricos, do seu fim um novo começo estava por emergir.

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