Notibras

Um Oceano de Afetos

Há um lugar não no mapa, mas no íntimo
onde os gestos se tornam linguagem
e os silêncios são tão eloquentes
quanto um pôr do sol que se demora no horizonte.

É um oceano invisível,
mas basta um olhar que não exige
para que ondas suaves se formem,
como promessas que não se desfazem com o tempo.

Ali, as palavras não são lançadas como redes,
mas entregues como conchas raras,
com o cuidado de quem toca
um cristal que ainda pulsa.

Nesse oceano, navegam frases serenas,
não como barcos apressados,
mas como velas que dançam com o vento
e sabem esperar a maré certa.

“Eu acolho você”,
“Estou ao seu lado”,
“É uma dádiva te encontrar”
são correntes cálidas que, ao tocarem a pele da alma,
transformam-se em abrigo, em cais, em casa.

Palavras ternas não são véus para esconder o vazio,
nem adornos para encantar o efêmero:
são bússolas que apontam para o afeto,
faróis que acendem o caminho do outro.

Ali, naquele oceano calmo,
os conflitos se dissolvem
como sal na água,
e o que é essencial emerge com leveza:
respeito,
delicadeza,
presença.

Cada frase tem seu brilho,
cada pausa seu mistério encantado.
Dizer “me perdoe” é como devolver ao mar uma estrela-do-mar,
dizer “eu te admiro” é como abrir os braços
e deixar o sol tocar sem reservas.

Palavras ternas são uma arte quase extinta.
Vivemos em um mundo que ruge,
que disputa, que fere com o que nomeia.
Mas neste oceano,
falar é como mergulhar com o outro,
e o silêncio também.

Nas tardes desse oceano,
os corais sussurram versos antigos,
golfinhos brincam com sílabas,
e até o vento parece aprender
a acariciar com som.

Lá, ninguém teme se revelar.
As emoções não são trancadas,
são celebradas como marés que fazem parte da dança.

Não há julgamento,
apenas escuta que floresce
em mãos que não ferem.

Porque neste oceano sagrado,
quem fala com ternura
também se banha em amor próprio,
e a alma se reconhece,
se cura,
se torna vastidão.

As pessoas que carregam esse oceano dentro de si
nem sempre percebem,
mas sua voz é porto seguro,
e seu silêncio, brisa.

Elas dizem pouco,
mas cada palavra sua
permanece como o eco de uma onda
que nunca se esquece.

E quando o mundo pesa,
quando o caos troveja,
quando a noite se alonga demais,
uma única palavra terna
pode ser vela,
pode ser bússola,
pode ser salvação.

É assim que é esse oceano.
Não tem margens.
Não tem dono.
Ele só se revela quando alguém escolhe falar
com o coração desarmado
e a ternura em flor.

E você, sim, você
se alguma vez ofereceu beleza
sem esperar retorno,
você já é mar dentro de alguém.

Sair da versão mobile