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Uma lapadinha chinesa numa quarta que sextou

Dias atrás, em um raro momento de ousadia (ou pura falta de juízo), comprei uma bebida de uns chineses. O detalhe é que eu não falo mandarim, e eles claramente não falavam português. Mas ali estávamos nós, unidos pelo capitalismo e pelo poder do impulso.

A garrafinha tinha um rótulo lindo, com umas letras misteriosas que poderiam muito bem significar “elixir da juventude” ou “veneno de dragão”, vai saber. E eu? Comprei, claro. Achei chique. Me senti quase uma exploradora de mercados internacionais, tipo a Dora Aventureira da adega.

Na hora, não pensei em usar tradutor, muito menos o ChatGPT. Fiz como faziam os maias: olhei, gostei, paguei e levei. Confiei na intuição (essa grande farsante).

Pois ontem, movida pela curiosidade e pelo espírito de sexta-feira (mesmo que fosse quarta), resolvi experimentar. Olhei pra garrafa, ela olhou pra mim. Senti que era o momento. Como sou uma senhora refinada e sensata, decidi misturar com Coca-Cola. Fiquei ali, toda plena, bebendo aquele coquetel intercultural como se estivesse num rooftop de Xangai.

Eis que meu marido se aproxima com aquela carinha de quem vai me beijar — e eu, romântica como um comercial de margarina, fui ao encontro dele. Só que no instante em que nossos rostos se cruzaram, ele fez uma careta digna de Oscar e perguntou:

— Amor… você tá bebendo escondida?

Na hora, neguei com convicção, como uma adolescente pega no flagra:

— Imagina! Eu?? Bebendo?? Nunca!

Mas cinco segundos depois, caí na gargalhada. Era a tal bebida chinesa! O cheiro de álcool me denunciando mais que fofoca em grupo de WhatsApp.

Moral da história: nunca subestime uma garrafa com letras bonitas e um gosto suave. E talvez, só talvez, usar o tradutor da próxima vez.

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