1.
Naquela madrugada, Deleotério saiu caminhando.
Da Ponta do Seixas, bateu na Praia de Cabo Branco.
Depois de brincar com as moças lindas do artesanato do Seixas, pensou, “acho que já sou feliz”.
Nada.
Travou na areia do Cabo e ficou branco.
Ele, negrão e rastafári.
Deleotério trazia no nome as coisas do sertão.
Ninguém daria um nome assim a um cara da capital.
Bode arretado do sertão se enfiou na capital da Paraíba.
“Agora vô fazê istóra!!!”
2.
Na manhã seguinte tomou uma Blitz e sem documentos se ferrou.
Passou três na gelada da delegacia e quando saiu não perdeu a fé.
Saiu andando pela praia e encontrou Madalena.
Ela, perdidona, olhou e gamou em Deleotério.
3.
Conseguiram trabalho no Mocambo do Valdir.
Mesas e atendimento de turistas do Sesc.
Transaram a vida ali por duas semanas e se amaram.
Deleotério contou a ela sobre as coisas do sertão.
Ela, muda, nada contava.
Trocavam ajudas e trabalhavam pra valer.
Valdir explorava e eles ficaram putos.
Certos dias decidiram ir praia afora.
E foram.
4.
Chegaram não centrão de João Pessoa, no Hotel escangalhado.
Arrumaram um trabalho de “bico” por dia. Ficaram por ali por duas semanas.
Seguiram assim, pulando de praia em praia. Até que Deleotério gritou:
– Chega! Vem comigo lá pro sertão.
Madalena travou. Sertão não.
Resultado.
Acabaram morando na periferia da cidade: Madalena se prostituiu e Deleotério virou cachaceiro nas areias brancas do Cabo Branco.
5.
Não, isso não é uma história trágica.
Eles vivem felizes. Tiveram dois filhinhos lindos e sempre que podem vão ao Mercado Central comer um rango legal. E dançam.
Contos de fadas não existem. Deleotérios e Madalelas existem e sobrevivem aos milhões perambulando pelos becos e ruas e praias do país.
