Outro dia me peguei refletindo sobre um tema de extrema relevância nacional: o pão francês. Ou melhor, como cada canto do Brasil chama esse pãozinho democrático que atravessa gerações, classes sociais e fronteiras regionais. E aí me pergunto: será que a gente vive num país só?
No Rio Grande do Sul, onde morei por um tempo, ele atende pelo singelo e sugestivo nome de cacetinho. Isso mesmo. Cacetinho. A primeira vez que ouvi, achei que era uma cantada de mau gosto ou uma pegadinha. Mas não: era só o gaúcho pedindo dois cacetinhos na padaria, com a maior naturalidade do mundo. No começo eu evitava repetir o nome — “me vê dois… desses aí” — mas depois me entreguei ao regionalismo e já tava pedindo dois cacetinhos bem escurinhos.
Já em Minas Gerais, se você pedir um pão francês, o padeiro vai olhar pra sua cara como quem diz: “você não é daqui, né?”. Por lá, o nome é pão de sal. E não tem meio termo: é pão de sal com café coado na hora, de coador de pano mesmo. Já em Goiás, dizem que é pão careca. Aparentemente, a ausência de gergelim confere a ele o status de calvície panificadora.
Em São Paulo, rola uma confusão básica. Tem gente que chama de média — o que é estranho, porque média é quando colocam leite no café — e tem os que insistem em pedir “um pão na chapa”, como se isso fosse um tipo de pão e não um modo de preparo. E aí já me dá vontade de fazer um PowerPoint na padaria explicando a diferença entre item e método.
No Nordeste, as coisas se diversificam ainda mais. Tem lugar que chama de pão massa grossa, o que parece mais uma ofensa disfarçada — tipo apelido de infância que pega. E, em algumas regiões, ouvi falar de um tal de pão de Jacó. Não entendi se é homenagem bíblica, se Jacó era padeiro ou só gostava de um pão quentinho mesmo.
Mas a verdade é que, seja cacetinho, pão de sal, careca, média ou pão de Jacó, a gente tá sempre falando do mesmo herói da mesa brasileira: crocante por fora, macio por dentro, e sempre disposto a acompanhar um cafezinho, um requeijão ou um drama existencial matinal.
Porque, no fim das contas, o Brasil pode ter mil nomes pro mesmo pão, mas, quando a fornada sai quentinha, todo mundo entende a linguagem universal do “me vê seis, por favor, e capricha que é pro café da tarde”.
