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Velho gaiteiro, metido a galante, paquerador na última

Teresinho de Jesus, chamado simplesmente de Teresinho ou de Terê – designação usada pelos amigos mais próximos, preocupados em evitar-lhe o constrangimento de um nome sexualmente ambíguo – era um velho gaiteiro, metido a galante, paquerador na última. Contudo, estava seriamente pensando em pendurar as chuteiras, devido ao peso da prata nos cabelos e do chumbo em outras partes do corpo, quando levou um tombo em sua residência.

Quedas de idoso são sempre perigosas. Teresinho, por sorte, não quebrou a perna, mas sofreu uma séria luxação; teria de ficar de cama por uns 15 dias. De imediato, acudiram três senhoras com quem ele flertava nas redes sociais, sem jamais tê-las visto em carne, osso e gordurinhas. As damas não tinham chapéu na mão, como consta da cantiga de roda, ou na cabeça; mas estavam com armas e bagagens, doidinhas para se alojar na casa do acidentado, no Rio de Janeiro, e transformá-la em um ditoso ninho de amor.

O velho gaiteiro não ficou muito feliz com a ideia, mas decidiu examinar imparcialmente as candidatas a namorida. Examinou bem a foto da primeira pretendente, paraense, e percebeu, pela primeira vez, uma certa semelhança com a senhora sua mãe.

– Ficar com ela? Nem morta! – disse a si mesmo. E prosseguiu:

– Mamãe era uma peste, me criou na porrada, me cobria de tapas e beliscões, ainda sinto suas unhas cravadas em meus braços!

Descartou a foto da primeira e pegou a da segunda dama, uma paulistana. Havia uma leve, porém inegável parecença com sua irmã Clotilde, dois anos mais velha que ele.

– É igualzinha a Clotilde – exagerou. – Cara de uma, focinho da outra. E Clô me fazia de saco de pancadas quando éramos crianças e zombava de meu nome, dizia que era de mulherzinha. – e concluiu:

– Quer saber, madame? Tchau e bênção!

Restava a terceira dama, ou melhor, a terceira candidata a primeira-dama nos domínios de seu coração. Uma paranaense. Teresinho examinou as fotos dela com atenção, mas não encontrou traço algum que o fizesse lembrar de qualquer parenta que o tivesse tratado mal. Resignado, já ia mandar um post autorizando a vinda da felizarda para o Rio, quando um ator, em um comercial de televisão, berrou:

– É cilada! Não entra nessa!

Teresinho sacudiu a cabeça, meio assustado, como alguém que desperta de um pesadelo. As palavras do comercial pareceram-lhe uma mensagem do universo, endereçada exclusivamente a ele.

– Dar a mão a essa senhora? Juntar os trapinhos só porque ela não parece com minha mãe ou minha irmã? Nonada! (Seu romance predileto era Grande Sertão: Veredas, citava a torto e a direito o “nonada” que inicia a obra-prima de Guimarães Rosa.) Nananinanão!

Logo em seguida, ligou para uma agência de viagem e comprou uma passagem para as Bahamas. Tinha de convalescer, que jeito, mas o faria em grande estilo, em meio a uma nuvem etílica de incontáveis margaritas. E, se tivesse sorte – e não tivesse de pagar muito caro –, descolaria uma companhia feminina jovem e atraente para suas noites de veinho dodói, que as chuteiras ainda não estavam penduradas na parede.

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