Eu não sou muito de usar joias ou bijuterias. Quando uso, prefiro as discretas: pequenas, simples, quase invisíveis, como se estivessem ali apenas para acompanhar, e não para anunciar a própria presença. Não gosto de nada que brilhe demais, que balance demais, que me faça sentir estar sendo observada por todos.
Já a minha irmã… bom, minha irmã é o extremo oposto. Como boa leonina, ela marca território e presença com suas peças grandes, muitas vezes extravagantes. Usa anéis como se tivesse dez mãos, pulseiras que soam como sinos, colares que poderiam contar histórias inteiras.
Às vezes, só de olhar, eu já sinto uma leve aflição. Me pergunto como é possível que duas irmãs, criadas sob o mesmo teto, tenham estilos tão diferentes, quase como se a gente tivesse nascido em planetas distintos.
Num desses dias, ela estava com tantos colares que pareciam formar um pequeno emaranhado sobre o colo. Reparei que eles se embolavam uns nos outros, até darem a impressão de serem um só. Perguntei se aquilo não incomodava e o que ela fazia quando os colares se misturavam assim. Ela respondeu, com a tranquilidade de quem já tem a resposta na ponta da língua: “Eu desembolo e continuo usando.”
Aquilo ficou na minha cabeça. Talvez a vida seja mesmo assim: às vezes, as coisas se confundem, se entrelaçam de formas que não entendemos. E aí é preciso parar, ter paciência, desembolar o que ficou confuso e seguir. Porque, no fim, tudo pode voltar a ter beleza, mesmo que não seja da forma que a gente imaginou no começo.
