Você pode ser idoso sem ser velho ou velho sem ser idoso. O que você escolhe? Eu escolhi viver intensamente e sem qualquer preocupação com o tempo. Decidi que não vale a pena rasgar nenhuma folha do livro de minha vida. Afinal, o passar dos anos é inevitável e as páginas que virei são lições que aprendi. Embora seja uma coisa opcional, envelhecer não é incômodo algum. Pelo contrário. Consciente ou inconscientemente, continuo fazendo as mesmas merdas de antes. Só que mais devagar. Na verdade, hoje oculto melhor as coisas que ignoro.
Do ponto de vista da materialidade do patriotismo e da perenidade da democracia, não sou Lula de carteirinha, mas voto nele porque tenho ojeriza a Bolsonaro. Como a soma do quadrado dos catetos sempre termina no redondo da hipotenusa, acabo de me entregar, isto é, de antecipar meu voto em outubro de 2026. Acrescento que minha opção política segue o Teorema de Pitágoras, cuja máxima é a soma multiplicada do vuco vuco por minuto. Deu certo, é nele que soco minhas esperanças para o futuro. Para quem acha essa narrativa uma coisa de maluco, afirmo que tem tudo a ver com aqueles brasileiros que seguem achando que a função de um presidiário é presidir. Por isso, se puderem votam de novo em Bolsonaro.
De volta às origens, falando sério e tentando ser o menos político possível, como sei que o tempo destrói todo tipo de embalagem, investi minha vida no conteúdo. Tanto que até me tornei mais sexy: o mínimo esforço é um gemido. Nada que me incomode. Por exemplo, me imaginando sempre um jovem reciclado, na cama não tenho limites: caio de duas a três vezes por noite. Sapiens ou não, sou um homem moderno, daqueles com direito a tudo e mais um pouco, desde que use a madrugada para operacionalizar meu modus diferenti. E não há que se pensar em se esconder ou achar feio qualquer coisa que fuja do lugar comum.
Também conhecida como fase do politicamente correto, a idade da razão impõe ao homem uma série de restrições, a começar pela caminhada em linha reta. Passado o terrorismo da fiscalização social, surge o melhor dos mundos. Refiro-me à idade do vale tudo, aquela em que votar, funhanhar e nem navegar é mais preciso. Às vezes, viver também deixa de ser objetivo principal, considerando que a vida é incerta e cheia de imponderáveis. No pós-idade da razão, importante é inspirar e, se possível, perseverar.
É o que tento fazer. Com o sorriso solto, as pregas reguladas e a fimose calibrada, viajo noite e dia pelas profundezas do desconhecido. É lá que encontro o futuro de muitos nomes. É lá que percebo que a vida não passa de uma oportunidade de encontro. E não se trata somente de um ponto de vista. Descobri com o tempo e com Victor Hugo que a suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que somos. Por falar em tempo, para que desperdiçá-lo. Aproveito tudo que é bom, inclusive olhar mais e mais para o céu como tentativa de cobiçar cada vez menos o que há na terra.
Decidido a ser perenemente um menino, pergunto a meus confrades: Por que o medo do chifre, da paumolescência, da incontinência urinária, dos chatos pubianos, do chulé, dos políticos ladrões e do saco vazio? Meu presente é de paz, meu futuro será de alegria e meu passado não me condena. Pelo contrário. Sem medo dos netos, do analista, dos bolsonaristas e da polícia, lembro que já comi vaca atolada, rabada, linguada, buchada, panelada e a galinhada do Jair. Com a mesma coragem, digo que nunca cheirei, jamais tomei e juro que nunca sentei.
Sou daqueles que, numa festa do cabide, topo o vale tudo, menos homem dançar com homem. Mulher com mulher a gente finge que aceita. Afinal, a colagem do velcro é indolor e passageira. Como hoje estou mais um gato que não mia, não sou mais crush de ninguém. No entanto, continuo gostando de lacrar na zoeira. Os mais radicais dizem que virei uma ameixa seca. Tô nem aí. Aliás, a ameixa seca é o que tem me ajudado a obrar para o mundo. Gosto de tudo um pouco, menos quando me perguntam se ainda tenho apetite sexual. É aí que me entrego. Claro que tenho. O que não tenho mais é o talher. Me entreguei de novo!
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
