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A Fada dos Dentes e o mundo dos sonhos da criançada nordestina

Lá pras bandas do sertão, onde o sol acorda cedo e o vento canta assovios antigos nas palhas do telhado, há um pedaço de mundo onde o real e o imaginado andam de mãos dadas. E é nesse terreno de terra batida, entre pés descalços e sorrisos faltando dentinhos, que vive a mais arretada de todas as fadas: a Fada dos Dentes.

Diferente daquelas fadas de vestido brilhoso que aparecem nos livros importados, a Fada dos Dente do sertão veste-se com chita colorida, voa montada num asa-branca feita de esperança e carrega uma sacolinha de pano, bordada pela avó de alguma criança que já acreditou nela um dia.

Quando um dente amolece e cai, não tem choro que segure. É um sinal de que o menino ou a menina está crescendo — e crescendo bonito. A criança corre pra mostrar ao pai, à mãe, à vó, ao cachorro e, às vezes, até ao pé de mandacaru no quintal. Com todo o zelo do mundo, coloca o dentinho debaixo do travesseiro e fecha os olhos com fé de quem sabe que mágica existe.

E não é que existe mesmo?

No silêncio da noite quente, entre os grilos e o cheiro de terra molhada da chuva que passou, lá vem ela: a Fada dos Dentes nordestina. Ela não deixa moeda, porque sabe que por ali moeda compra pouco. Em vez disso, deixa um bilhetinho com cheiro de alfazema, desejando coragem, saúde e um sonho bonito, desses de voar em jumento alado ou brincar com lampiões de vaga-lume.

A fada nordestina não some com o tempo. Crescendo, as crianças talvez esqueçam dela por um tempo — os dentes param de cair, os sonhos ganham outras formas, a vida fica mais corrida. Mas num fim de tarde qualquer, ao ver um menino risonho com banguela no sorriso, a lembrança volta. A fada existiu. E, mais que isso, ela ensinou que mesmo no sertão seco, a infância floresce com doçura, poesia e fé.

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