Ato-1: NO FUNDO, SEMPRE TIVE FÉ!
Ela era um sonho de mulher!
Júlio César sabia que faria qualquer coisa para conquistá-la.
Aos cinquenta anos, ele estava viúvo depois de ter suportado duas décadas de um casamento sem nenhum tipo de encantamento.
Cyntia, uma cativante e escultural loira balzaquiana, surgiu na sua vida como uma chuva de verão em meio a um asfixiante calor de quase quarenta graus e zero de umidade.
Depois de desdobrar-se por meses em mesuras, gentilezas, afagos e renúncias, só restava um obstáculo para o enlace definitivo com a sua musa, situação que ela lhe expôs de forma lamuriosa:
— JC, eu também quero muito, mas os meus pais não admitem ninguém de outra religião na família.
— Entendo! Mas e se eu me converter a sua religião?
— Você faria isso por mim? Isso não vai te trazer problemas?
— Nada que eu não possa contornar, meu amor!
— Então tá… mas você precisa fazer uma prova com o pastor antes de ser aceito.
— Eu faço! Qual é a sua igreja mesmo?
— Igreja Cristã da Salvação Cristo Única Luz!
— Ah, sim, tinha esquecido o nome completo! Bem, a minha família é católica, mas eu nunca fui praticante.
Na verdade, JC sempre foi um agnóstico que ainda não tinha saído totalmente do armário, mas isso não era relevante naquele momento.
— Mas você tem fé em Deus?
— Sim, claro, no fundo sempre tive fé!
— Que bom! Então, com certeza você será aceito na nossa Igreja, mas tem que ser aprovado na prova!
JC dedicou-se com afinco por dois meses a ler a doutrina da fé Maranata. Apesar disso, no dia da prova, colocou dezenas de mini recortes de “cola” nos braços e antebraços, só para garantir.
— O senhor está mesmo preparado?
— Preparadíssimo, pastor!
Após a correção da prova, ouviu do satisfeito pastor:
— Você realmente foi inspirado por Deus, irmão! Está aprovadíssimo, meus parabéns!
À noite, o futuro casal Maranata foi comemorar com um jantar vegano regado a suco de goiaba.
Na despedida, dentro do carro, JC tentou avançar em terreno proibido e foi delicadamente impedido e admoestado pela linda noiva:
— Não, querido, só depois do casamento!
— Claro, querida, me perdoe! Vamos marcar a cerimônia para a semana que vem?
— Hum…daqui a um mês, querido! Antes quero concluir o meu curso e ser nomeada pastora.
Passado o período sabático e concluído o curso da amada, essa deu a JC uma terrível notícia:
— Querido, fui nomeada para uma missão evangelizadora no Quênia.
— Sério? E por quanto tempo vai ficar lá?
— Cinco anos! Se você quiser, pode me esperar… mas fique à vontade! De qualquer forma, não mude, Júlio, você é uma alma pura e uma pessoa muito doce!
— Sei…quer dizer, sim, pode deixar, não mudarei!
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O segundo ato deste folhetim será publicado na sexta-feira, 10.
