A tentativa da família Bolsonaro em doar o Brasil para Donald Trump me levou a comparar o atual cenário com alguns ditados criados pelo homem para definir ricos e pobres. Para ilustrar, a maioria é tão engraçada como cruel. Entre os mais sádicos, destaco um do escritor russo Leon Tolstói, para quem os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas. Embora sábio, o médico e escritor irlandês Oliver Goldsmith é autor de um provérbio do século 17, mas atualíssimo: “As leis trituram os pobres, e os ricos mandam na lei”. Também atual é a citação do filósofo e político brasileiro Mariano José Pereira da Fonseca, o Marquês de Maricá. Segundo ele, os pobres se divertem-se com pouco dinheiro, enquanto os ricos se enojam com tanta despesa.
Parece essa a explicação para tanta ojeriza a pobres como a dos deputados e senadores bolsonaristas aliados à sanha intervencionista do líder norte-americano. Facilitar a vida da elite endinheirada e evitar o nojo da granfinagem talvez seja a razão do insano trabalho em favor da inanição dos menos favorecidos, aqueles que mais sofrerão com o tarifaço às nossas importações. O que eles esquecem é que, conforme a máxima de Horácio, poeta satírico da Roma antiga, “A pálida morte bate com pé igual nos casebres dos pobres e nos palácios dos ricos”. Ainda que o assunto mereça seriedade, tudo indica que os congressistas, principalmente os vinculados ao bolsonarismo, levam na brincadeira a causa dos mais pobres.
Para eles, o que for possível contra os trabalhadores pagadores de impostos na fonte e, obviamente, tudo a favor dos ricos que passeiam de iate no mar de impostos recolhidos pelos pobres. Pelo menos a vergonhosa atuação da elite do Congresso serviu para se desenhar com cores vivas o abismo existente entre as duas classes. Como a brincadeira campeia no Congresso de bozistas, está claro que boa parte dos desastrosos, perniciosos e catastróficos parlamentares vem se valendo de uma famosa sátira social composta pelo falecido Ary Toledo para exemplificar o preconceito e a desigualdade social.
Como toda canção tem uma história, a utilizada pelos senhores doutores deputados e senadores certamente define o rico correndo como atleta e o pobre como ladrão. Seguindo a mesma toada, para eles rico com medo é nervoso e pobre com medo é cagão, rico namora na cama e pobre no chão, rico traído é enganado e pobre é chifrudo, rico faz xixi e pobre dá uma mijada, casa de rico é mansão e a de pobre é maloca, doce de rico é bombom e o de pobre é paçoca, amante de rico é dama e a de pobre é biscate, nome de rica é Estela e o de pobre é Raimunda.
São apenas ilações e nada têm de exageradas, considerando que o mais triste é que um dos versos da composição vai ao encontro do que pensam as excelências bolsonaristas, ávidas por entregar o Brasil para o comando de Trump: “Rico só leva vantagem e pobre só leva na bunda”. Ainda que Ary Toledo tenha sido um artista popular, sua obra com comparações apenas sacanas acabou caindo como uma luva velhaca, ardilosa e debochada no cenário perverso criado pelos parlamentares cuja essência é aprovar o que for preciso para que os ricos continuem comendo lagosta e o pobre se alimentando de chuchu. É por isso que o olho do rico é chamado de saída de emergência e o do pobre é simplesmente fiofó.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
