Nas entrelinhas das medidas anunciadas pelo governo para enfrentar os impactos do tarifaço de Trump está a percepção de que a guerra vai ser longa. O pacote dividido em três eixos – fortalecimento do setor produtivo, proteção ao trabalhador e diplomacia – aposta em créditos e benefícios fiscais para mitigar os efeitos, mas também mira no mercado interno e em novos parceiros comerciais no caso de uma situação que, no mínimo, não tem data para acabar. Como aliás, se viu na reação imediata dos Estados Unidos, com sanções contra autoridades e servidores envolvidos na antiga versão do Mais Médicos.
A justificativa foi carregada de distorções ideológicas, bem ao gosto do trumpismo, e mais uma vez comemorada por Eduardo Bolsonaro, sinalizando que os EUA podem começar a sancionar e bloquear qualquer brasileiro aleatoriamente desde que sirva de pressão para impedir o inevitável, a condenação definitiva de Bolsonaro e dos golpistas. Mais do que isso, como o próprio Lula já deixou bem claro, o objetivo de Trump é influenciar as eleições presidenciais do próximo ano para ter uma versão tupiniquim de Milei, dócil e subordinado à Miami.
Porém, até aqui, Trump só conseguiu aumentar o sentimento anti-americano entre os brasileiros e, com exceção do agronegócio, mover o apoio do empresariado às medidas de Lula contra o tarifaço. Além disso, uma rara unidade de governantes latino-americanos também têm se formado contra os EUA. Para ajudar, no cenário interno, a inflação dos alimentos vem diminuindo, na esteira do dólar mais baixo, com expectativas de seguir caindo até o próximo ano. O mês de setembro pode impulsionar ainda mais o governo, dependendo das manifestações previstas para o 7 de setembro e para o fim do julgamento dos golpistas. O problema é saber se o Congresso entendeu a mudança da conjuntura e não vai atrapalhar ou se vai prevalecer o fisiologismo do centrão.
………………..
O boletim Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile para o MST
