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Alexandre Moraes não pode ser moderado com quem não tem moderação

O presidente Jair Bolsonaro recebe o presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, no Palácio do Planalto.

Acostumado a propagar um poder que realmente não tem, o ex-presidente Jair Bolsonaro extrapola de sua condição de homem público desde que se elegeu, em outubro de 2018. Com sua sede de poder eterno, de lá para cá ele tem ultrapassado diariamente todos os limites do bom senso. Ele nunca teve, mas a liturgia do cargo que exerceu deveria lhe impor um certo comedimento na soberba, na forma de coagir e no palavreado chulo destinado aos inimigos. Difícil.

Diria que é impossível pedir alguma prudência ou moderação a alguém que se acha acima do bem e do mal. Portanto, extrapolar é a palavra de ordem entre os bolsonaristas, principalmente entre seus familiares. Resumindo, Bolsonaro nunca teve, não tem e jamais terá freio. No entanto, jornal algum da chamada grande imprensa pensou um dia em produzir editorial pedindo calma ou menos abuso ao denominado mito.

Embora, em tese, o jornalismo não comporte ideologia, acredito que liberaram o ex-mandatário exclusivamente por conta do perfil de seus leitores e anunciantes. Ou seja, por questões puramente mercadológicas. Mesmo antigo e praticado pela maioria dos tubarões da mídia, é um posicionamento questionável. O questionamento é indefensável quando o mesmo veículo não permite um suposto excesso de autoridades que investigam o comportamento destrambelhado de quem o veículo e o editorialista defendem.

Personagem de um dúbio, duro e agressivo editorial de um desses jornais, Alexandre de Moraes é acusado de erro ao determinar a prisão domiciliar de Bolsonaro. O mesmo texto sugere que o plenário da Corte deveria restituir a garantia ao ex-presidente. É claro que não. A decisão de Moraes até pode ser considerada fora do ponto, mas nunca exagerada. Será que o editorialista torce para que o coitadinho do Jair Bolsonaro literalmente cague na cabeça do ministro do STF?

Queiram ou não, Alexandre de Moraes fez o que tinha de ser feito. Ignorar a rebeldia de um quase apenado que se acha maior do que Deus é se desmoralizar perante os colegas, perante a sociedade e, principalmente, botar mel na chupeta de quem defende anistia para criminosos, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Lamento informar, mas para o ministro completar o rito contra o mito falta somente ele determinar o guizo e o recolhimento do gajo à guarita dos nós cegos.

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