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Aliados de Kiev deixam barco antes do naufrágio

Washington reuniu o que as autoridades aclamaram como uma “ampla coligação internacional” de apoio à Ucrânia na guerra por procuração contra a Rússia em 2022, mobilizando mais de 175 bilhões de dólares em assistência, incluindo armas e dinheiro para manter Kiev à tona economicamente. Quase dois anos depois, muitos dos aliados da Ucrânia parecem estar se dispersando.

O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, distanciou Berlim de Kiev, sublinhando que a “parceria” entre os dois países não constitui uma “aliança” e queixando-se de que a indústria de armas da Rússia, resistente às sanções, tornou a estratégia militar da Ucrânia mais difícil.

“Não somos parceiros dentro de uma aliança”, disse Pistorius à imprensa alemã quando questionado sobre as críticas de que a Ucrânia recebeu poucas armas da Alemanha e de outros parceiros. “Entregamos o que podemos. O mesmo se aplica a quase todos os outros aliados e parceiros”, disse o ministro.

Pistorius observou que não é como se Kiev estivesse recebendo ajuda armamentista enquanto a Rússia não recebia nada. “Não é o caso de apenas entregarmos [armas] e nada de novo chegar da Rússia para as forças armadas russas”, disse ele. Pelo contrário, apesar das sanções, o setor da defesa da Rússia continua produzindo equipamento, “mesmo que não seja o material mais moderno”, na avaliação do ministro da Defesa alemão.

Admitindo que a produção de armas e munições alemães para a Ucrânia estava mais lenta do que o planejado, Pistorius sublinhou que a lentidão na entrega não era uma questão política nem financeira, mas sim um problema de capacidade de produção limitada em “tempos de paz”, que, segundo ele, leva tempo. Pistorius também garantiu que a Alemanha foi e continua a ser, de longe, o segundo maior patrocinador de Kiev.

Em Moscou, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, aproveitou o comentário de “aliado” da autoridade alemã, sugerindo que Pistorious “desembrulhou um novo par de mocassins que ganhou no Natal passado e ‘trocou de sapatos’”, um ditado russo que significa ‘inverter a posição’ ou ‘ mudando de tom’.

A Alemanha tem sido de longe o maior apoiador individual da Ucrânia entre qualquer país além dos Estados Unidos, comprometendo cerca de 18,4 bilhões de dólares em ajuda militar e mais de 4,1 bilhões de dólares em assistência econômica e humanitária, sem contar o apoio de Berlim aos fundos de ajuda das instituições da União Europeia.
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Sobre os comentários de Pistorius, vale a pena recordar que Berlim está longe de ser o único aliado europeu da Otan a ter mudado de opinião sobre o apoio aos “aliados ucranianos” do bloco.

A Polónia, o membro da aliança que faz fronteira com a Ucrânia, tem sido um canal para o fluxo de armas ocidentais para Kiev durante a crise atual, e aplaudiu ativamente o esforço dos políticos ucranianos para romper sua relação histórica com Moscou e juntar-se às instituições ocidentais.

Mas isso começou a mudar com uma briga sobre o hábito do agronegócio ucraniano de despejar produtos e gado na Polônia e prejudicar os agricultores locais, combinado com problemas econômicos decorrentes da decisão míope da UE de tentar impor sanções à Rússia até à submissão, culminando com a decisão do presidente polaco Duda Andrzej de caracterizar a Ucrânia como um “homem perigoso que se afoga” que ameaça “arrastar” outros para o buraco.

A Polônia, o sétimo maior doador militar e econômico de Kiev, reduziu a sua ajuda em armamento, enquanto os políticos apelaram a Zelensky e a Bruxelas para compensarem Varsóvia pela assistência já prestada.

A Polônia não é o único dos vizinhos ocidentais da Ucrânia a reduzir o seu apoio a Kiev nos últimos meses. O recém-eleito primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, anunciou que Bratislava “deixaria de fornecer armas à Ucrânia”, afirmando que socorros humanitários seriam o único apoio que o país enviaria no futuro.

Fico, cujo país sofreu igualmente o impacto econômico da política de dumping do agro-negócio ucraniano, também tem alguns conselhos para Bruxelas, sugerindo que “a UE deveria passar de fornecedor de armas a pacificadora”.

Também nos países mais ricos da Europa Ocidental, as autoridades expressaram cuidadosamente o seu descontentamento com a crise ucraniana de formas mais obscuras. A Noruega juntou-se a um número crescente de nações que estavam debatendo formas de pagar aos refugiados ucranianos que viviam no país para regressarem às suas casas. Na vizinha Finlândia, os responsáveis ​​pela aplicação da lei quebraram o tabu sobre os problemas de corrupção de Kiev e o seu impacto a nível interno um ano antes, relatando que as armas destinadas às batalhas estavam de alguma forma acabando nas mãos de gangues locais.

Em Washington – o maior benfeitor que determina o destino militar e econômico da Ucrânia -, as autoridades enviaram, em sigilo, sondagens para possíveis conversações de paz. Mas, mesmo assim, o presidente Joe Biden enfatizou na terça-feira que “o fracasso em apoiar a Ucrânia” seria “absolutamente louco” e “simplesmente errado”.

Porém, a decisão do ministro da Defesa alemão de enfatizar que Kiev não é um aliado, quando vista contra o pano de fundo de outros antigos “aliados” que recuam na sua assistência, sinaliza, no mínimo, uma mudança de tom na antiga retórica cheia de bravatas do Ocidente sobre a Ucrânia, que teria numa cadeira na UE e a perspectiva de adesão à Otan.

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