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Ítens alimentação e bebidas registram a maior alta mensal desde a criação do plano real

Daniela Amorim

A alta generalizada nos preços dos alimentos em janeiro contribuiu para que o grupo Alimentação e Bebidas tenha registrado o maior resultado para o mês de todo o período do Plano Real, com alta de 2,28% nos preços, no âmbito do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O maior nível até então – da série histórica iniciada em 1995 – era o de janeiro de 2003, quando os alimentos subiram 2,15%.

“O maior resultado era 2003 (para meses de janeiro), quando se refletiu a pressão do câmbio”, explicou a coordenadora de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos. “Foi o maior aumento para alimentos em janeiro de todo o Plano Real”, confirmou.

Segundo o IBGE, considerando todos os meses, o resultado para alimentação em janeiro foi o pior desde dezembro de 2002, quando o grupo atingiu 3,91%. Considerando os últimos doze meses, os preços dos alimentos estão 12,90% mais caros.

Em janeiro, a alta chegou a 3,66% em Vitória, 3,60% em Salvador e 3,22% em Goiânia, as três maiores variações do País. A região de Porto Alegre teve o aumento mais modesto, de 1,20%. “A alta foi generalizada”, declarou a coordenadora do IBGE.

Os produtos comprados para consumo em casa ficaram 2,89% mais caros, enquanto a alimentação fora de casa subiu 1,12% em janeiro. Os aumentos mais expressivos foram registrados na cenoura (32,64%), tomate (27,27%), cebola (22,05%) e batata-inglesa (14,78%).

Eulina explica que o clima adverso provocado pelo fenômeno El Niño, a valorização do dólar e o encarecimento do frete estão por trás dos reajustes.

“Em algumas (regiões) foi a seca que prejudicou a lavoura, em outras foi a chuva. Além disso, tem a questão do diesel (mais caro), que aumenta o frete e o custo, e o dólar (com valorização ante o real), que aumenta fertilizantes, máquinas, custo de produção”, enumerou a pesquisadora.

A coordenadora lembrou ainda que alguns pedágios foram reajustados e outros foram criados. Outra explicação seria a maior atratividade das exportações por causa do dólar em alta, o que restringe a oferta de produtos no mercado interno e sustenta preços em patamares elevados. “Então este ano tem um conjunto de fatores que fazem com que esses preços de alimentos estejam altos”, concluiu Eulina.

Impacto – As despesas das famílias com Alimentação e Bebidas aumentaram 2,28% em janeiro, o maior impacto de grupo sobre a inflação do mês. O resultado foi o equivalente a uma contribuição de 0,57 ponto porcentual para a taxa do IPCA de janeiro, que ficou em 1,27%.

O segundo maior impacto de grupo sobre o IPCA foi dos Transportes, que aumentaram 1,77% em janeiro, o correspondente a uma contribuição de 0,33 ponto porcentual para a inflação do mês

“Esses dois grupos foram responsáveis quase que pelo IPCA todo (71% da taxa de inflação)”, ressaltou Eulina Nunes dos Santos.

Ônibus urbano – 
Os reajustes praticados no início do ano fizeram os transportes públicos pesarem mais no bolso das famílias em janeiro. As tarifas dos ônibus urbanos ficaram 5,61% mais caras no mês, como resultado dos reajustes em seis das 13 regiões pesquisadas no IPCA. O item teve o maior impacto sobre a inflação de janeiro, uma contribuição de 0,14 ponto porcentual para a alta de 1,27% do IPCA no período, segundo IBGE.

Os consumidores do Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, São Paulo e Recife pagaram mais pelas passagens de ônibus urbano em janeiro. As tarifas dos ônibus intermunicipais também subiram, 6,14%, refletindo reajustes em cinco regiões pesquisadas.

Combustíveis – O grupo Transportes registrou alta de 1,77% em janeiro, puxada pelo transporte público, que subiu 3,84%. Mas o segundo item com maior peso na inflação de janeiro foram os combustíveis, que ficaram 2,11% mais caros, uma contribuição de 0,11 ponto porcentual para a inflação do mês.

O litro da gasolina teve aumento médio de 1,88%, mas chegou a ficar 8,01% mais caro na região metropolitana de Porto Alegre. No etanol, o aumento médio foi de 3,47%, mas Porto Alegre também registrou a maior alta, 9,60%.

“O etanol é o que vem pressionando os preços da gasolina. E o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) foi revisto em algumas regiões. Sobre a gasolina, o impacto maior (do ICMS) foi em Porto Alegre. Em Brasília também houve aumento de ICMS. Então o ICMS aumentou em alguns itens, mas na gasolina a gente está vendo porque os aumentos foram mais fortes”, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.

Táxi, trem, metrô e outros – O consumidor também pagou mais caro em janeiro pelo táxi (4,00%), trem (4,19%), metrô (4,27%), ônibus interestaduais (1,22%) e conserto de automóvel (1,77%). “Tem a questão das peças importadas, e as pessoas não estão comprando automóvel novo, então estão consertando seus próprios carros”, justificou Eulina.

Por outro lado, as passagens aéreas ficaram 6,13% mais baratas, a principal contribuição individual negativa na formação do IPCA do mês, o equivalente a -0,03 ponto porcentual.

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