Tão prejudicial ao Brasil como o trampo do Trump é a forma como a família de Jair Bolsonaro faz política no Brasil e no mundo. Ainda mais danoso e quase maléfico é a bancada de um partido sem história alguma como o PL, também conhecido por Partido das Lágrimas, ser obrigada a fingir que está tudo bem para agradar o mestre. Não sei se os liderados daquele pastor mequetrefe imaginam a possibilidade de saírem ilesos das maldades praticadas contra o governo que detestam e, por extensão, contra o povo que não quer mais saber deles. É inútil acreditar na absolvição, na medida em que da lei do retorno ninguém escapa.
Enquanto tento achar uma explicação lógica para tamanha subserviência de uma legenda a um grupo familiar reconhecidamente prejudicial à nação, busco respostas para o fanatismo embasbacado de parte do eleitorado sobre o mesmo grupo. Tudo converge para o vocábulo ambição, termo que pode degenerar para sede de poder. Aliás, a ambição levou a trupe Bolsonaro para os tentáculos de Trump. É ela a responsável pela cegueira dos homens, estejam eles de qualquer lado da balança política. É o caso dos parlamentares bolsonaristas ávidos por vantagens e dos eleitores cuja fraqueza humana gera esse tipo de distúrbio mental.
Nasci, cresci e envelheci consciente de que o que está ruim sempre pode ficar pior. O que jamais imaginei é que o pior virasse algo pra lá de ruim, sem futuro, sem direção e sem sentido. Qualquer semelhança com o Brasil de nossos dias não é mera coincidência. É a mais pura e suja realidade. Merecemos coisa melhor, mas o que fazer se, nos últimos anos, tudo que fazemos é apostar errado. De um lado, o roto vive arrotando ordens estapafúrdias e ditatoriais recebidas do exterior. De outro, aquele a quem os “patriotas” denominam de esfarrapado procura mostrar ao povo com algum neurônio as diferenças entre o afago honesto e o chicote mentiroso.
Com fôlego renovado, ele tem aproveitado as sandices do opositor para se apresentar ao eleitor com coragem suficiente para uma nova reencarnação. O período é de expectativas pelo que ainda deve piorar. Voltamos aos tempos das charretes, do cabresto político, da cangalha no eleitor e do faça o que eu mando e não reclame. Pelo menos é como pensam os nossos congressistas, cujo valor social para a maioria do eleitorado brasileiro vale menos do que o que gato enterra. Então, por que insistimos em votar em zeros à esquerda, à direita e ao centro? Será que fomos enterrados com o que o gato enterrou? Acho que não, mas ainda temos entre nós muitos que vendem o voto e depois exigem um governo honesto.
A democracia está na UTI. Salvá-la é um dever dos brasileiros conscientes e depende exclusivamente da consciência do nosso voto. Consciência deveria ser a palavra de ordem, mas, infelizmente, não é. E não é por conta daqueles cinco famosos tipos de eleitores: os que não estão nem aí, identificados como maria vai com os outros, os que só olham para seu próprio umbigo, os covardes, aqueles que escolhem candidatos para gritarem por eles seus rancores, preconceitos e outras maldades, e os que, ao mesmo tempo, pensam em seus interesses e nos da população. Já na metade da segunda década do segundo milênio, esses ainda são minoria. Sem generalizar, a maioria é formada por pessoas ignorantes e que topam tudo por algum tipo de vantagem.
Se for dinheiro, são capazes de acordos com o capeta para buscá-lo. Por mais patriotas que sejamos, não há como ser hipócrita e excluir o Brasil desse perfil. Acho que nenhum de nós deseja ser referência mundial, principalmente porque nossos traços e nossa herança genética nos impuseram qualidades que nem sempre merecem admiração. Eis a razão pela qual alguns brasileiros apoiam a intromissão de Donald Trump na política nacional, defendem o tarifaço sobre nossas exportações e ejaculam com o achincalhe externo ao nosso Poder Judiciário. Tudo isso para livrar da cadeia um ser que, por motivos anormais, eles defendem. Pelo menos, o episódio me trouxe a confirmação do que imagino desde 2018. Para a família Bolsonaro, o trinômio Deus, Pátria e Família se resume a Trump (Deus), aos Estados Unidos (Pátria) e ao clã Bolsonaro (Família). Qualquer semelhança com o novo cangaço não é mera coincidência.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
