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Apesar das narrativas hipócritas, governadores fogem do crime organizado

Data vênia, meus caros e mentirosos governadores defensores da barbárie. Mesmo com parcos e discutíveis conhecimentos políticos, econômicos e administrativos para o exercício do cargo, vocês, mestres do tipo coisa nenhuma, exigem o título de excelências. De que? Além da compreensão generalizada e equivocada de que os morros e as favelas são redutos de bandidos, que tese vocês já defenderam em benefício dessas comunidades? Quantas vezes vocês já entraram em uma dessas localidades que não fosse para pedir votos ou para matar?

Certamente que nenhuma, pois nunca notaram que a maioria esmagadora dos moradores dessas localidades é honesta, ordeira, pagadora de impostos e, lamentavelmente, conduzida por aqueles que, sem dó e nem piedade, amam cagar no chapéu dos cabeças ocas. Depois de comemorar a matança da Penha e do Alemão com champanhe, caviar e lagosta importada do Pacífico, Cláudio Castro e seus lacaios bolsonaristas deveriam ter “visitado” os dois complexos nos dias seguintes à carnificina.

Em lugar das reuniões refrigeradas no Palácio Guanabara, vocês poderiam ter tido lampejos de humildade e feito uma “caminhada” informal à Serra da Misericórdia, local onde os meninos maluquinhos do Jair fuzilaram 117 “bandidos”. Bandidos ou não, a exemplo dos quatro anjinhos das polícias Civil e Militar mortos no “confronto”, todos tinham mães, pais, irmãos, mulheres e filhos, eram eleitores e, como os demais 213 milhões de brasileiros, estão até o topo com o discurso hipócrita e enganoso de que o Estado precisa ser mais forte do crime organizado.

É óbvio que precisa. O problema é encontrar mandatários capazes disso. São tão incapazes a ponto de, sob um pífio argumento politiqueiro, escamoteiam qualquer proposta nesse sentido do governo federal. Por enquanto, nenhuma das 27 unidades da Federação, incluindo o Distrito Federal, dispõe de governadores com coragem mínima para enfrentar o crime organizado. Tutelados por deputados e senadores com o mesmo pedigree de vira lata, eles são ótimos em promover reuniões improdutivas, em narrativas e em falácias que se perdem no vento. Quanto à prática, talvez não saibam sequer o significado do termo. Na verdade, não sabem como enfrentá-lo e, por razões diversas, fogem do crime organizado.

Se soubessem, teriam percebido que nada mudou nos dois complexos “visitados”. O modus operandi e as táticas internas dos traficantes vinculados ao Comando Vermelho permanecem inalterados. O que deveria ser objetivo maior dos governadores que adoram jogar para a plateia, os moradores continuam entregues à própria sorte. Assim como os governadores da direita, nenhum brasileiro de bom senso simpatiza com os que optam pelo submundo. A diferença é que o bom senso também determina que até mesmo os bandidos precisam ser reconhecidos como seres humanos. O governador Cláudio Castro e seus asseclas pensam diferente. São exemplares palpáveis da farsa política.

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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais

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