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Apostar no sobrenome Bolsonaro é o mesmo que revisitar a escuridão

Tão macabra como a manhã do domingo em que o golpe não se consumou, a cirurgia de hérnia do ex-presidente Jair Bolsonaro certamente passará para a história como um dos mais sórdidos palanques eleitorais já montado por um candidato presidencial. Consciente de que sua vida não está por aquele fio que seus médicos apregoam, o chefe do clã que vive para se servir optou pelo palco hospitalar para o lançamento de uma candidatura apagada, doente e que a cada dia se mostra mais determinada a afastar o país da inovação.

Refiro-me ao senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 e mais novo membro do circo sem lona montado pela direita para tentar incomodar a provável reeleição de Luiz Inácio. Entre dúvidas, espocar de fogos e curiosidades impagáveis a respeito de 01, o que mais chamou atenção logo após a definitiva sutura nas virilhas de Jair Messias foi a manifestação de um general da reserva, cujo passado político não o vincula a ideologias extremistas, tampouco à esquerda moderada.

Por isso mesmo, suas declarações pós-cirurgia merecem uma análise menos pessoal do picadeiro bolsonarista. Ex-candidato ao Palácio do Buriti, o general Paulo Chagas me parece daqueles que não deixam para amanhã o que podem dizer hoje. Em se tratando de um militar de alta patente, o que ele diz certamente ecoa rapidamente na caserna. Posso até não concordar com a oportunidade de suas críticas, mas como discordar do conteúdo delas?

Utilizando as redes sociais, Paulo Chagas fez críticas duríssimas aos fanáticos seguidores e eleitores do ex-presidente. Conforme o general, são dois os perfis dos simpatizantes do bolsonarismo. Um é o “do cão que ladra, mas não morde e se oculta atrás de codinomes”. Segundo ele, o outro sofre de “deficiência cultural e cognitiva, expressa na dificuldade de articular ideias minimamente coerentes”. Se alguém menos servil às teses golpistas é contrário ao militar, que atire a primeira bomba.

Falador ou não, Paulo Chagas é um crítico feroz do capitão e de seus apoiadores. Provavelmente com conhecimento de causa, o general da reserva considera Jair Messias “um líder tão estridente como vazio, daqueles sem capacidade de se consolidar como força propositiva”. Coincidências à parte, hoje pelo menos dois terços do eleitorado brasileiro pensam a mesma coisa. Mesmo ainda distante do ideal imaginado pela sociedade, Lula da Silva é o sonho a ser sonhado, principalmente se o pesadelo a ser combatido tiver Bolsonaro no sobrenome. Entendo que a longevidade do atual presidente incomoda muita gente.

Também sei que o cenário de um quarto mandato incomoda muito mais. O que fazer se os que tiveram oportunidade preferiram optar pelo golpismo com forma de perpetuação no poder? Perderam a chance e, com ela, a força para novas candidaturas. Sem a necessidade de usar a própria saúde como apelo eleitoral, Lula criou um legado inigualável e inquestionável por aqueles que mostraram ao Brasil e ao mundo o que há de mais obscuro na condição humana. Recorrer à família Bolsonaro é insistir desinformando que as sandálias bolsonaristas não deformam e não soltam as tiras. É, no mínimo, querer revisitar a escuridão. Eu prefiro a luz de 2022 e que pode ser perenizada em 2026.

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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais

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