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Até onde vai a chantagem política contra Lula?

Sigo à procura de Raul, de John, Yoko, Paul, Ringo, George e de Biden. Como não os acho, tenho a certeza de que muitos têm a impressão de que realmente o sonho acabou. Claro que não! Desdizendo a previsão do Beatle John Lennon, sobraram alguns que, mesmo não sendo deuses, tampouco anjos, pelo menos são os que ainda nos restam. Tudo isso para lembrar que, paralelamente a uma eventual candidatura à reeleição de Luiz Inácio, também há nomes em outras correntes ideológicas capazes de nos fazer esquecer tudo de ruim que vivemos desde a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder maior, em janeiro de 2019.

Independentemente do que venha no futuro, haverá vida com Bolsonaro recolhido às quatro linhas. E não falemos somente dele. Como não há mal que nunca se acabe, voltaremos a sorrir com o banimento de Donald Trump, com o naufrágio de Dudu trombadinha e, quem sabe, com a eleição de um presidente voltado para soluções que atendam o povo brasileiro. Nessa quadra da vida, talvez não haja alguém melhor do que Luiz Inácio para o cargo. Caso Lula seja reeleito, estará provado que a incapacidade dos trogloditas, golpistas e chantageadores é o deleite dos bem-intencionados.

Mesmo contra a vontade dos simpatizantes da seita bolsonarista, os brasileiros certamente permanecerão lépidos, fagueiros, cada vez mais alegres e, o que é melhor, mantendo os títulos de pulmão e de celeiro agrícola do mundo. Entretanto, não sei se um dia conseguiremos esquecer a divisão que nos impuseram em nome de um poder que não tem dono, mas inquilinos temporários. Apesar de todos os perrengues vividos desde janeiro de 2019, nem tudo está perdido. Lembrando o mestre Millôr Fernandes, estamos livres para pensar em 2026.

Então, basta pensar no que é bom para o país, consequentemente para a sociedade. Mantido o modus operandi dos políticos extremistas, o primeiro passo para manter o sonho é defenestrá-los, aculturá-los ou, por meio do voto, mostrar-lhes que somos mais importantes do que eles. O atual pesadelo é conviver com parlamentares que pensam em tudo, menos nos interesses do país. Quando isso ocorre, o caminho só é aberto mediante a barganha envolvendo a safada e criminosa liberação de verbas, associada à nomeação para cargos no governo. Enfim, legislar em causa própria é só o que fazem as excelências.

Por exemplo, está em análise no Congresso um projeto para anistiá-los de crimes pretéritos, presentes e futuros. E o povo que se exploda. A briga entre fanáticos da extrema-direita e o STF para livrar Bolsonaro do calabouço não passa de oba oba. Na verdade, poucos congressistas, incluindo muitos dos chamados bolsonaristas, fingem morrer de amores pelo ex-presidente. Como a maioria deve à Justiça, o que eles desejam de fato é autoanistia. Como perderam a boquinha com Luiz Inácio, resta-lhes o esperneio, os motins, os gritinhos histéricos de alguns e a chantagem com a pauta governista. Tudo palhaçada organizada e com objetivos óbvios.

É claro que, entre o sonho e o pesadelo, há algo de muito podre no reino da Casa dos Horrores. O que será que será? Perguntemos a Lula. Até onde vai a chantagem política contra o presidente? Vítima do esquadrão da sacanagem política, ele certamente tem todas as respostas. Queira Deus que ele consiga nos posicionar a respeito da bandalheira e da perseguição que sofre antes de sucumbir fisicamente. Torço para que o presidente tenha a mesma coragem que vem tendo com Donald Trump e repita um gesto que ficou marcado para sempre na memória dos que vivem, respiram e sofrem pela política.

Em 12 de outubro de 1960, Nikita Khrushchov, então primeiro-ministro da União Soviética (URSS), ao discursar na Assembleia Geral da ONU, tirou um sapato e o brandiu na tribuna em protesto contra um discurso do delegado das Filipinas. É sabido que os partidos da direita, alguns com ministros no governo trabalham para emparedar o líder petista. Ainda temos tempo até 2026. E se Lula decidir subir nas tamancas, soltar a língua, abrir a boca e enumerar as exigências da banda podre do Congresso? Pode ser a chance que o governo tem de obrigar a oposição a agir com um mínimo de decência. Com isso, a médio ou a longo prazos, talvez consigamos sair da escuridão política. Afinal, não há nada tão bom que não possa melhorar.

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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais

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