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Bizarria exótica e erótica ao alcance da direita e da esquerda

Quando achei que já tinha descoberto os lugares mais exóticos do mundo, eis que sou apresentado a Boquete. Pasmem os assanhados, libidinosos e permissivos, mas Boquete é apenas um vale encantador coberto de floresta, rodeado pelas montanhas de Chiriquí e localizado no noroeste do Panamá, um dos mais lindos países da América Central. O vale dos sonhos? Pode ser, mas para Elon Musk, Donald Trump e os demais republicanos dos Estados Unidos e os vitimizados bolsonaristas brasileiros. O que sei é que Boquete é um destino muito procurado por quem sonha em explorar cachoeiras paradisíacas à esquerda e caçar animais peçonhentos à direita. O lugar também é indicado para quem pensa em se esconder do lobo mau Alexandre de Moraes.

Como os mais velhos afirmam que um copo d’água não se nega a ninguém, achei interessante recomendar Boquete para os que dormem de boca aberta e só despertam depois de destilar veneno misturado com adrenalina em quem ousar atrapalhá-los. Não é nenhuma bizarria. Boquete existe. Para os que têm medo de altura, a solução é ficar no Bajo Boquete, capital do distrito. Inicialmente, minha recomendação era específica para a turma da misoginia, da transfobia, do racismo e da homofobia. Após um estágio obrigatório, certamente esse pessoal iria descobrir em Boquete quantos paus são necessários para se tentar subir na corcova de um dromedário arisco e sem todos os dedos.

Os extremistas podem ficar tranquilos, pois não é uma sugestão amiga de um adversário. Para quem gosta de fantasias secretas e ardentes, Boquete realmente é prazeroso. Sou daqueles que não espera recompensa ao servir alguém de má índole, como é o grupelho para o qual pesquisei as maravilhas de Boquete. Ficarei feliz se depois disso nenhum deles me sacanear. Faz algum tempo senti vontade de recomendar a amigos brazucas algumas aconchegantes aldeias de Portugal. Escolhi a dedo Pau Gordo, Campo de Víboras, Monte de Meda, Anais, Venda das Raparigas e Purgatório. Não preciso nem dizer que o sentimento misto de arrependimento e de alegria foi rápido.

Mal chegaram e já conheceram o gajo André Ventura, presidente do Chega, legenda de extrema-direita. Apenas como ilustração, embora Portugal tenha somente três partidos oficiais, o Chega ficou em terceiro lugar nas eleições portuguesas de março passado. Resumindo, a sigla levou um chega pra lá e ficou fora do governo conservador, mas republicano da pátria mãe. Para quem não se lembra, o Chega é comandado por aquele falador que prometeu prender Lula no aeroporto caso fosse o vencedor. Ventura perdeu, mas chamou a atenção das viúvas do bolsonarismo de lá e de cá. É a prova de que os baba ovos estão por toda parte.

O que os adoradores do mito brasileiro não sabiam é que dormiam literalmente com o inimigo lusitano. Amigo do astronauta Elon Musk, o desconhecido André Ventura, o gnomo português, é um caçador de imigrantes ilegais, situação da maioria dos brasileiros que fugiram para terras lusas. Isto quer dizer que, mais rápido do que um raio lusitano, o feitiço virou contra o feiticeiro, ou seja, o castigo para os jumentos veio a cavalo. A situação é ainda mais grave porque os brazucas regularizados obviamente são anti-imigração e buscam o Chega para marcar posição. Azar o deles. Visitei as paradisíacas vilas ao Norte e ao Sul de Lisboa com o único objetivo de rosetar.

Aliás, apesar da ascendência portuguesa, jamais pensei em abandonar as delícias do meu Brasil varonil. Então, trocando o recôncavo com o reconvexo e disposto a manter acesa a chama do prazer democrático, opto sempre pelos paraísos nominalmente erotizados da Terra Brasilis. Caso não conheçam, apresento-lhes as lindezas de Pau Grande, Pau Miúdo, Paudalho, Ponta Grossa, Curralinho, Rolândia, Tomar do Geru, Virginópolis e Pintópolis. E faço isso com a alma lavada e o coração enxaguado nas belezuras da panamenha Boquete. Adepto da velha filosofia dos monges beneditinos, insisto que mais vale um seio na mão do que dois no sutiã. Por isso, aproveitem o que puderem antes que sejam levados em uma cadeira de rodas com a cabeça bamba e o falecido escondido para locais como Entrepelado e Fucking. Depois de morto, nem o cemitério do Peru Molhado vai aceitá-lo.

*Wenceslau Araújo, jornalista desde 1975, é Editor-Chefe de Notibras

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