Meses após o vai e vem de Tarcísio de Freitas (Republicanos), as fichas do bolsonarismo serão descarregadas nos bolsos de outro governador. Com chances ainda mais remotas de emplacar nacionalmente, o paranaense Ratinho Junior (PSD) segue à frente dos “colegas” Ronaldo Caiado (GO) e Romeu Zema (MG) e deve ser a bola presidencial da vez. Nada que incomode o staff do presidente Lula, líder em todas as pesquisas de intenção de votos, inclusive em setores dominados pelos evangélicos.
Já esperada por Deus e pelas torcidas do Flamengo e do Corinthians, a quase certa desistência de Tarcísio tem a ver com a expressão se garantir com algo que é certo do que com alguma coisa que não se tem certeza. Aparentemente mais próximo da reeleição para o governo de São Paulo, Freitas sabia desde o início da empreitada bolsonarista que sua candidatura seria um tiro nos dois pés. O mesmo deve estar ocorrendo com o filho do apresentador e ex-deputado federal Carlos Massa, o Ratinho do SBT.
Apesar da força do poderoso presidente do PSD, Gilberto Kassab, a presença de Ratinho Junior na disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva pelo Palácio do Planalto ainda é uma incógnita. Com uma agenda liberal, ótima aprovação no Paraná e idade que o capacita a voos futuros, Ratinho reúne características capazes de elegê-lo com relativa facilidade para o Senado Federal, de onde poderia vislumbrar uma candidatura mais sólida em 2030.
O problema é o clã Bolsonaro, que topa apoiar o governador do Paraná, desde que ressalvadas as eventualidades e conjecturas futurísticas da política. Supostamente uma alternativa para Jair Bolsonaro contra Lula em 2026, Ratinho pode se transformar em um risco instransponível para o ex-presidente e seus filhos em 2030. Inelegível e em vias de ser preso, Bolsonaro pai ainda sonha com a improvável anistia, consequentemente com a possiblidade irreal de se candidatar à sucessão do cada vez mais provável Lula 4. Para a família, a grande preocupação é Ratinho Junior se candidatar e ganhar a eleição. Aí seria o fim da história de um mito forjado nas mentiras populares e nas entranhas das estultices da direita brasileira.
Como a política é a arte do possível, as eventualidades consideradas pela família são remotíssimas, na medida em que não há hipótese de o projeto da anistia alcançá-lo. Na verdade, as chances de a proposta ser aprovada são mínimas, assim como são mínimas as probabilidades dela não ser derrubada no Supremo Tribunal Federal. Sendo assim, forçosamente Jair Messias terá de escolher e “apoiar” um candidato que meça forças com o PT. Como o tempo urge, o medo de Bolsonaro perder seu eleitorado precisa ser infinitamente menor do que sua pulverização política. Difícil será convencê-lo disso.
Enquanto isso, Lula nada de braçada. No último levantamento da Genial/Quaest, ele lidera todos os cenários de primeiro e segundo turno. Conforme a pesquisa, a vantagem do atual presidente da República varia entre sete e 19 pontos percentuais, a depender do adversário. Curiosamente, o melhor desempenho do líder petista é justamente contra os governadores e contra o fugitivo deputado Eduardo Bolsonaro (PL). Como Jair Bolsonaro seria o único em condições de fazer frente a Lula, tudo indica que a estratégia do clã é manter o nome do ex-presidente na boca do povo e aguardar o desdobramento político. Resta saber até quando o plano suicida funcionará. Na boca de espera, Lula só tem a agradecer.
