Notibras

Brasil, Granada e Noruega, esta, a terra dos sonhos

Lígia Formenti
Carolina Paiva, Edição

Há uma música – Granada – que fala de lindas mulheres, de sorriso, de vida, de sol… e de sangue. Essa é uma cidade espanhola. Mas há uma outra Granada – a ilha. É justamente a ela, uma região de mochileiros, onde, numa relação sem sabor, que o Brasil se compara no índice mundial de Desenvolvimento Humano. É o que diz a ONU, em relatório divulgado nesta terça, 21. Nesse quesito, vamos de mal a pior. E sentimos inveja dos noruegueses.

A verdade é que, pela primeira vez na série histórica, o Brasil ficou estagnado no Índice de Desenvolvimento Humano. O relatório das Nações Unidas revela que o País alcançou o indicador 0,754, de uma escala de 0 a 1, o mesmo obtido no ano anterior. Com esse desempenho, o País se mantém na 79ª posição no ranking, empatado com a Ilha de Granada. A Noruega, primeira da lista, alcançou o IDH 0,949. A pior colocação foi da República Centro-Africana, com 0,352. Ao todo, participam do ranking 188 países e territórios.

“São poucos os países que ficam estagnados ou caem no desempenho do IDH. A tendência é de todos avançarem de um ano para o outro”, afirmou a coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional, Andréa Bolzon. Neste ano, por exemplo, mais de uma centena de países apresentou melhora nos indicadores.

A queda de IDH foi registrada sobretudo em países que enfrentaram condições adversas. Foi o caso, por exemplo, da Síria. Para Andrea, o desempenho brasileiro é reflexo da crise econômica que o País já enfrentava em 2015, ano da coleta dos dados do relatório.

A pesquisadora observa, por exemplo, que entre 2014 e 2015 a pobreza no Brasil aumentou, rompendo um ciclo de queda identificado desde a década anterior. Dados indicam que, em 2015, 3,63% da população vivia em situação de extrema pobreza, com uma renda mensal per capita de até R$ 70. Naquele mesmo ano, 9,96% da população era classificada como vulnerável à pobreza, com rendimento de até R$ 140 reais por mês.

O desemprego, por sua vez, cresceu de forma expressiva neste mesmo período. Os mais afetados foram jovens. A taxa de desemprego entre 15 a 24 anos em 2015 era de 23,1%, bem acima dos 17% identificados em 2014. Em seguida, estavam as mulheres. O nível de desemprego entre mulheres cresceu de 8,9% para 11,8% no biênio 2014-2015, de acordo com dados da PNAD.

Desenvolvido há 26 anos, o IDH tem uma escala de 0 a 1. Quanto mais próxima de um, melhor a situação do país. As notas são dadas a partir da avaliação de três quesitos: saúde, educação e rendimento.

Entre 1990 e 2015, a média de crescimento do IDH brasileiro foi de 0,85% ao ano. A análise dos dados mostra que o que levou o País a quebrar essa trajetória foi o padrão de vida. A renda nacional per capita foi de 14.145 P.P.P. (paridade de poder de compra, uma medida internacional usada para permitir comparação entre diferentes moedas). Em 2014, a renda havia sido 14.858. O relatório mostra que, em 2015, a renda per capita na Turquia, por exemplo era de 18.705. Já o México era de 16.383 e o Chile, de 21.665.

Nos outros quesitos do IDH, o País apresentou uma discreta melhora. A expectativa de vida (usada para medir o desenvolvimento na área de saúde) foi de 74,7 anos. Mais do que os 74,5 indicados em 2014. Na área de conhecimento, o Brasil obteve um pequeno avanço na média de anos de estudo. Passou de 7,7 em 2014 para 7,8 em 2015. Por outro lado, chama a atenção da estagnação de outra variante usada para avaliar o conhecimento, a expectativa de anos de estudo. Desde 2013, esse indicador não ultrapassa a marca dos 15,2 anos.

O IDH brasileiro está um pouco acima da média regional da América Latina e Caribe, que foi de 0,751 em 2015. Na comparação entre Brics, apenas a Rússia traz um IDH superior ao do Brasil: 0,804. China, África do Sul e Índia aparecem no ranking em posições abaixo do País, com indicadores 0,738; 0,666 e 0,624, respectivamente.

Sair da versão mobile