Ainda que separados por uma vogal, trocadilho e trocadalho significam a mesma coisa: um jogo de palavras com sons semelhantes, mas de significados distintos. Se querem a verdade, eles servem somente para criar um equívoco divertido ou raivoso para quem lê ou escuta. Interessante é a ambiguidade que produzem, pois costumam ser malditos e engraçados ao mesmo tempo. É o caso do nome escolhido para a sorveteria do sertanejo Michel Teló: Ice Te Pego. Por razões de gênero musical, não tenho coragem de perguntar ao moço do acordeon se ele sabe o que faz um homem com a orelha encostada na pedra. Imagino que o sujeito esteja ouvindo arrocha, mas não provo. Por isso, não aprovo.
Dos trocadilhos futebolísticos, o pior deles foi criado para definir o time que se “alimenta” de um imperador: o Atléti comi Nero. Para quem já teve o Rei Dadá, o Galo Mineiro está mais para aquela ciência que transforma cachorro em gato: Au que mia. Eita criatividade pai d’égua. Lembra o sentimentalismo do lápis, aquele da ponta preta que ficou desapontado quando soube que o papel acabou. Só não chorou porque logo transformaram a papelada em pá vestida. Quanta besteirada. Pior é alguém telefonar querendo saber a razão pela qual não seria uma boa ideia um filme só sobre números. Mais do que óbvia, a resposta é simples: porque seria uma má temática.
Bisbilhoteiro da vida alheia, dia desses quis saber de um apressado bombeiro o motivo de não gostar de andar. Do alto da Magirus, o soldado do fogo me disse de supetão que é por falta de tempo, pois, durante o plantão e mesmo de folga, ele socorre. É um argumento pra lá de relevante, muito mais do que a alegação irrelefante de Dumbo para limpar as orelhas. Um Deus! É o mesmo que dizer que a vaca foi para o espaço para se encontrar com o vácuo. Para quem já ouviu que uma partida de futebol entre cavalos terminou em patada, um dia ainda digo a meus netos que, infelizmente, Papai Noel não está mais em trenós.
Ruim de boca, mas bom de língua, descobri cedo que o doce preferido dos átomos é o pé-de-moléculas. Levei mais tempo para perceber que o seu vagem é o legume que ninguém consegue domesticar. Cansado do besteirol em que se transformou a política de Davi Alcolumbre e de Hugo Motta, tenho preferido tomar uns goles. Como não uso boné, mas o Cazuza, fui para o boteco paramentado com o casaco de veludo. Ou seria o do Bob Dylan? Degustando um vinho doce da Tailândia (fabricado em Taguatinga e engarrafado na Ceilândia), dei de cara com a Xuxa bebendo CaSasha. Surpreso, li no menu do bar que, ao contrário de minha preferência pelo vinho doce, a Deborah opta pelo Secco.
Parei no posto de combustível e o frentista quis saber se era gasolina ou álcool. Respondi que tanto fazia e o rapaz, com cara de pastel de pera, uva ou maçã, me informou sobre uma terceira opção. Qual? A mesma do Vin, o diesel. Optei por sair batido. Voltei para casa pê da vida. Liguei a TV para ver o Chapolin, mas logo o Alcolumbre gritou para o Hugo que queria Chaves. Pensei com meu botão em flor em antecipar a viagem do próximo ano. Só vou viajar em 2026, mas a Marjorie Estiano. Então, malas para que as quero. Não deixo para amanhã o que posso fazer hoje. Afinal, todos morremos uma única vez. Só a Alanis Morrissette.
Embora saiba que o Jack Sparrow, não espero mais um dia. Amanhã eu volto para a malhação. Eu odeio academia, mas o Tim Maia. É o lado pouco conhecido do síndico. E todo mundo já viu o Sebastião puxando ferro. Dizem que até o Clodovil. Como eu vim do barranco e o Luciano do Valle, me apressei a ser diferente de uma vassoura, equipamento doméstico que detesta caratê porque já luta capoeira. Pelo sim, pelo não, sou igual à Mãe Terra, considerada a mãe mais brava do mundo. Querem ter certeza disso, mexam nos fio dela para ver. Resumindo o besteirol, no trocadilho da política brasileira, sobra o trocadalho para o povo.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
