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Brasil, que vive a política da guerra, pode viver o luto no Inferno

Faz tempo que os valores do povo brasileiro, sobretudo aquele que tem orgulho de se autodenominar eleitor, não são mais os mesmos. Desde mil novecentos e bolinha que a gente mudou sem perceber. E mudamos para pior. Paciência, respeito e amor ao próximo deixaram de fazer parte da cartilha da maioria. Atualmente, o que vale é a tabuada, principalmente a que ensina a somar e a multiplicar. Dividir está fora de moda. Hoje, nossas escolhas são feitas de acordo com as vantagens presentes e futuras.

Embora seja uma cumpridora contumaz de leis, escrevo na terceira pessoa, pois sou tão falho como qualquer ser humano errante. A diferença é que reconheço meus erros, peço perdão por eles e, comumente, me reavalio internamente. Por isso, ainda que permaneça não aceitando àqueles que não me aceitam como antagônica, tenho optado por ignorá-los. É o caso daquele ex-presidente e do fundamentalismo de seus seguidores.

Como é impossível fazê-los enxergar com os dois olhos, escolhi o caminho da tranquilidade emocional para mostrar-lhes, por exemplo, que um caso comum de trânsito não pode ser transformado em guerra individual ou coletiva apenas porque eles não admitem ser derrotados. Perder ou ganhar faz parte do jogo. O diálogo é naturalmente a melhor opção. Eles não toparam e, em breve, terão de se manifestar feroz e descontroladamente contra eles mesmos.

É por essa e outras razões que, quando posso, lembro aos mais próximos sobre a necessidade de se preocupar com as más influências, notadamente dos idolatrados e dos bons influencers. Nenhuma alusão em separado às eventuais dondocas das redes sociais. Me reporto a todos os que insistem em tapar o sol com a peneira. De forma mais objetiva, refiro-me àqueles supostamente sem juízo – alguns mais militantes do que desordeiros -, os quais acham bonito se manifestar, pública e desembestadamente, para atacar um defensor juramentado da lei e da ordem.

É a verdadeira ausência de valores. Certamente pensaríamos diferente se ainda tivéssemos a marca registrada do orgulho de ser brasileiro, coisa que nem os jogadores da seleção têm mais. Se tivéssemos, não daríamos o status de Deus do Olimpo a um aventureiro bilionário com ares de superioridade absoluta e que imaginou o Brasil uma terra de ninguém. É verdade que os amigos que embarcaram comigo no balão azul da esperança e da fé não existem mais. A maioria se perdeu pelo caminho, tentando manter a mil a vida no país tropical. Até parece que as coisas boas são de ontem ou de anteontem. Não são.

Tudo ficou velho. Parafraseando o poeta cearense Belchior, é o fim do termo saudade. Pelo andar da carruagem, tudo indica que o pior ainda está por vir. Tão ou mais assustador do que a baixa umidade e o calor decorrente do aquecimento global, a divisão política, a insegurança ambiental e o negacionismo em relação às chamas que tomaram conta do país, é a possibilidade real de as duas maiores cidades brasileiras serem comandadas em breve pelo crime organizado. Aí estaríamos bem próximos do que os visionários chamam de fogo do inferno.

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Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras

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