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Brasileiro bom é o que flagra a mulher com outro, chama amigo e forma dupla sertaneja

Ainda há no Brasil bozolítico quem acredite em macaco pilotando avião, papagaio voando de costas e cachorro correndo atrás do próprio rabo. Nada diferente daqueles que chegaram a jurar que os extraterrestres viriam a Brasília para abduzir Luiz Inácio, abrindo caminho para o retorno de Jair Messias ao poder. E o que dizer dos tais machões à esquerda e à direita, os quais, após meia hora de acupuntura, dormem feito pedra e, quando acordam, a única preocupação é saber se foram usados pelo acupunturista. Jamais saberão, mas pouco importa se o mais importante é ser feliz.

É o caso dos cornos espalhados pelo mundo. E quem nunca foi? Eu diria que não, mas como o corno é sempre o último a saber, talvez seja somente uma questão de informação. Melhor assim. Na verdade, como o diabetes, alguns morrem sem saber que têm chifres. Outros descobrem e passam a vida controlando. Deus me livre dessa preocupação, principalmente depois que descobri que chifre é igual a consórcio: um dia todos serão contemplados. Aliás, meu caro leitor, você sabia que nem todo corno tem chifre? Se não sabia, fique sabendo. Você é a prova disso.

Venha de onde viver, nada mais retumbante do que a filosofia chifruda de Carlos Drummond de Andrade. Segundo o poeta, no adultério há pelo menos três pessoas que se enganam. Apesar de concordar com Drummond, eu não jogo na retranca. Por isso, prefiro a tese de botequim de Nelson Rodrigues, para quem “amar é ser fiel a quem nos trai”. Considerando que o homem é um ser tão dependente que até para ser corno ele precisa da ajuda da mulher, melhor do que discorrer enfadonhamente sobre o que nasce nas cabeças alheias é dar nome aos bois.

Por exemplo, o tipo mais comum entre nós é o corno ateu, aquele que leva galho, mas não acredita. Fisicamente endeusado, o corno atleta descobre que leva chifre e sai correndo para casa. Particularmente, gosto muito do cornudo Brahma. Esse sempre pensa que é o número 1. O mais chato é o atrevido, o tal que adora se meter na conversa da mulher com o Ricardão. O pior deles é o galhudo banana. Depois de anos de corneação, a patroa foge com o outro e deixa sob sua responsabilidade uma penca de filhos. E o que dizer do matemático? Nada além de que ele pega a mulher fazendo 69 com outro e vai para o bar tomar uma 51.

Brasileiro que se preza e que vota em mitos e duendes talvez simpatize com o chibungo brincalhão, sujeito do caso reto que leva chifre o ano inteiro e no carnaval sai fantasiado de corno. O que vive dizendo que vai tomar uma solução também pode ser chamado de morfético bateria. Entre os mais radicais, temos os cornos vingativo e o cebola. Após descobrir os galhos, o primeiro vai para a rua e dá para qualquer um. Já o segundo, vê a mulher com outro, corre para a casa da mãe, se senta na pancetta untada de mel e só chora.

Intoleráveis são os cornos cigano e teimoso. Um muda de bairro toda vez que leva galha. O outro leva chifre da mulher e da amante. Descolados são os cornudos descarado e dinossauro. O descarado é aquele que leva chifre e ainda sai desfilando com a mulher. O dinossauro já chega em casa gritando: “Querida, cheguei!”. Do que mais tenho ranço é do chamado detetive. Eita sujeito estranho. Ele segue a mulher do vizinho, mas se esquece a dele. Como apreciador da natureza morta, dou valor aos cornos carioca e goiano. O conterrâneo surpreende a mulher com outro, pula na cama e faz a festa. Mais comedido, o de Goiás dá o flagrante na cara metade, sai à procura de outro corno e forma uma dupla sertaneja. É por isso que nós trupica, mas não cai.

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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