Como a recíproca é sempre verdadeira, a variação de sentimentos que juramentadamente professo em relação aos “patriotas” é proporcional a que eles declaram por mim. Faz parte da vida. Estamos quites. A diferença é que jamais pensei em golpeá-los, tampouco em vê-los moribundos ou mortos. Embora alguns não acreditem, no Brasil e no mundo há lugar para todos. Qualquer cidadão tem o direito de viver como deseja. E não interessa a etnia, a raça, a classe social, a opção sexual e o clube para que torce.
Todo brasileiro é antropologicamente capacitado para ter uma ideologia para chamar de sua. É o que prega a democracia, cujo preceito básico é o de permitir que eu – e eles – tenhamos o mesmo peso político e o mesmo direito de cobrar trabalho e exigir respeito daqueles que elegemos. Antes de pedir vênia aos que lutam diuturnamente pelo Estado Democrático de Direito, gargalho na sombra dos que pensam e agem no sentido oposto e, faço um breve preâmbulo filosófico, para reconhecer o lado bom (será que existe?) do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Nos momentos mais loucos de sua desastrada administração, ele não deixou dúvidas de que a pretensão do clã, do seu staff e dos esmeraldinos militares que lambiam suas botas era fechar definitivamente o ciclo libertário que vivemos. Como diz o poeta, democracia pode não ser o melhor caminho, mas, com certeza, é o sistema que nos livra do inferno. É com essa certeza que insisto na afirmação de que a manifestação de amanhã deverá ser algo como uma ópera de surdos-mudos.
Voltando aos poetas, vocês (eles) não entendem nada. Na verdade, nunca entenderam. Não estou e não quero ser incluído no vocábulo esquerdopata. Meu lado político é o Brasil. Entretanto, como os “bons moços” costumam rotular de esquerdistas os que defendem a democracia com unhas e dentes, então orgulhosamente eu sou de esquerda. Desse modo, com certeza jamais serei citado no melancólico diário sobre a melancolia da direita.
Curtindo minhas convicções democráticas, acompanharei sempre as ideias do coração descafeinado e livre de fanatismos. A sugestão para hoje é seguir para o bar e assistir um jogo qualquer da Premier League ou do Brasileirão Betano. Aliás, que pena que os “patriotas” tomam mais remédios do que cerveja. Entre bajular quem não serve para coisa alguma, prefiro seguir a recomendação dos sábios: “Sorriso para os dias bons, paciência para os dias ruins e cerveja para todos os dias”.
Melhor do que se enrolar no Pavilhão Nacional e sair às ruas à procura dos sermões $alvadores do “sapiente” bispo Silas Malafaia, cujo sumiço dispensa legenda. Para ilustrar, sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância. Chegando ao bar, aproveitarei meus claríssimos desconhecimentos terroristas para sugerir ao garçom amigo que, na ausência dos inimigos golpistas, me traga mais uma cerveja. Brindemos à paz, à democracia, à alegria e, sobretudo, à eleição presidencial sem mitos e sem fantasmas.
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Heliodoro Quaresma, pseudônimo de velho jornalista que mantém o brilho em restrito grupo de confidentes, é o mais novo colaborador de Notibras, refletindo sobre a vida e transmitindo o conhecimento adquirido ao longo da vida.
