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Cães ladram, caravana passa e Jair Bolsonaro permanece nas nuvens

O presidente da República, Jair Bolsonaro fala à imprensa no Palácio da Alvorada

Dois anos e seis meses se passaram após a derrocada do bolsonarismo. Mesmo assim, faltando um ano e cinco meses para a próxima eleição presidencial e há poucos meses da decisão final sobre a liberdade de Jair Bolsonaro, cuja chance de reverter a inelegibilidade é de menos zero ao quadrado, os birutas inconfessáveis permanecem insistindo na candidatura do ex-presidente. Fazem pior. Por meio de lideranças que já se mostraram sem lastro, aliados do bolsonarismo raiz sem caule têm usado as nuvens para espalhar que Bolsonaro reverterá a situação e será o candidato da direita em 2026.

Estrela sem brilho no meio de uma constelação de estrelas com menos pontas, mas sem pendências judiciais e igualmente protagonistas de um enredo político que inclui artistas do espectro conservador, Jair acredita no que dizem. Encastelado em um passado que não chegou a ter, tentando se livrar do presente que pode tirá-lo do ar e preocupado em fincar a tese de que o futuro é ele, depois ele e sempre ele, o mito redundantemente circula em círculos. Como uma barata tonta em festa de escorpiões carregados de peçonha, ele parece aguardar o dilúvio para tentar embarcar em uma arca para a qual dificilmente será convidado.

Ou seja, não por falta de aviso, acabará ficando sem tempo para pelo menos descarregar em um serviçal os votos que diz serem seus até a morte. É fato que Jair Bolsonaro está inelegível até 2030. Também é fato que ele está com os dois pés no calabouço. Para os fanáticos, tudo isso é mero detalhe. Eles têm certeza de que Donald Trump e seu staff de direitões sem nexo colocarão guizo no ministro Alexandre de Moraes. Nos sonhos mais estapafúrdios, os fanfarrões fantasiados de patriotas prometem botar o bloco na rua tão logo Trump decida se intrometer na decisão da Justiça Eleitoral e no julgamento em curso no Supremo Tribunal sobre a trama golpista liderada por Bolsonaro.

Como sonhar não paga imposto, a pregação – quase uma ordem – no seio bolsonarista é chorar lágrimas de sangue até que o impossível se converta em algo provável. Oficialmente, o bordão da cartilha distribuída pela turma golpista em bares, igrejas, supermercados e até em velórios é Bolsonaro na cabeça em 2026. No texto, faltou dizer de quem. Por conta do fanatismo exagerado e tacanho, a maioria dos conservadores ainda não percebeu que a intenção de Bolsonaro é empurrar com a barriga a escolha de um nome que o clã possa chamar de seu. Por isso, os testes entre a família. Será que sem eles o Brasil pode virar uma colônia da Venezuela ou da China? Eles acham que sim.

O problema é que, enquanto os cães ladram, a caravana passa. E tem passado bem em frente aos olhos avermelhados de ódio e rancor daqueles que pensam e agem como se o Brasil fosse deles. Pior é a avaliação de que a baixa popularidade transformou Lula da Silva em um poste derrubável por qualquer um, inclusive por um dos filhos do patriarca. Embora o fanatismo impeça a maioria de entender que empurrar com a barriga a escolha do candidato à direita é ruim para a própria direita, os mais inteligentes sabem que os objetivos são exclusivamente familiares. Não passa pela cabeça oca de Jair Messias entregar o osso a qualquer uma das raposas ávidas pelo poder.

Faz parte do jogo político. No entanto, ele precisa ser informado de que, em uma eleição presidencial, os ponteiros do relógio caminham com celeridade acima do normal. Quando se vê, o tempo passou. Nas rodas de apostas e no centro do Centrão, as opções ao bolsonarismo mais radical já estão postas, ainda que sob protestos dos fiéis mais ferrenhos. Pequena, mas articulada, a lista de pré-candidatos é conhecida até pelas paredes do Palácio do Planalto. Enquanto os conservadores aguardam a undécima hora, Luiz Inácio apanha daqui, toma rasteira dali, leva toco do improviso, escorrega em cascas de banana espalhadas pelos próprios aliados, mas é o nome a ser vencido. Que vença o menos presunçoso e menos carregado de ranço.

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