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Cinco ministros, oitos réus, muitas mentiras e o cárcere como destino dos golpistas

Ao abrir as portas para um dos mais importantes julgamentos de sua longa história, o Supremo Tribunal Federal tentará de vez acabar com uma farsa dolorosa, divisionista e que já caminha para o terceiro ano. Desta terça (2) até o dia 12, data da batida do martelo, os cinco ministros da 1ª Turma da Corte começam a decidir o destino de Jair Bolsonaro e de outros sete réus. Da verve da quina de ouro do STF escorrerá contra “Os Oito Odiados” o que eles (os ministros) armazenam em suas mentes robustamente sãs desde a fracassada articulação e quase execução do golpe contra a eleição e posse do atual presidente da República.

Negar a trama articulada ao vivo e em cores nos gabinetes dos palácios do Planalto e da Alvorada é muito mais do que uma farsa deslavada. É uma mentira que nunca se sustentou. E que jamais se sustentará, apesar de os ignorantes e leigos por conveniência insistam em mostrar o contrário. Quem viveu, tem boa memória e não admite interferência no modo de pensar e agir, se recorda da tragédia decorrente das tolices e sandices políticas, econômicas, sociais e familiares cometidas pelo governo negacionista de Bolsonaro. E quem não se lembra do 8 de janeiro de 2023?

Basta não raciocinar com o fígado para lembrar que, do começo ao fim, a gestão parecia um mundo em que a mentira vivia vestida de meias verdades. Pior é que, nesse mundinho louco criado pelos bolsonaristas, a verdade sempre esteve nua e crua, mas normalmente escondida na hipocrisia e nas aparências. Inesgotável como tema de qualquer narrativa, a mentira não se cansa de bater de frente com o óbvio ululante que os extremistas de direita fingem não acreditar. Houve golpe ou não houve golpe? Realmente não houve golpe. Ficou na tentativa. Haveria se os “aliados” da loucura tivessem um pouco mais de tutano e de apoio.

Nos livramos por muito pouco. Como tentativa também é crime, Bolsonaro e sua trupe deverão ser condenados e presos. E a decisão dos cinco ou da maioria dos ministros da 1ª. Turma do STF independerá do esperneio dos simpatizantes do mito, das ameaças de Donald Trump – todas a pedido do robozinho sem corda Eduardo Bolsonaro – e, principalmente, das manifestações programadas para esta semana em apoio à tropa golpista. Além da negativa da trama, dizer que Bolsonaro sofre perseguição é uma outra mentira insustentável. Que perseguição?

Para início e fim da conversa, Jair Messias é o principal perseguidor de Bolsonaro. Normalmente um cai na cilada do outro. Tanto fizeram que agora os dois estão no banco dos réus. E de lá certamente sairão de mãos dadas para o quartinho de dois por dois e meio. Difícil entender como o coração de um ser humano normal consegue ver mentira no que seus olhos sabem que é verdade. Assim se acham e assim se apresentam os bolsonaristas. Talvez eles não durmam desse jeito. Seria demais imaginar mais uma estultice na conta de pessoas que juram saber votar. Como sou de verdade, prefiro deixar o mundo (?) viver suas mentiras.

Aliás, parafraseando Friedrich Nietzsche, a mentira mais frequente é aquela que se conta para si mesmo. E nisso a trupe do nada é nada é diplomada. Felizmente, as verdades dos ministros não são utópicas, inventadas, tampouco fantasiosas. Elas são baseadas em fatos gerados pelos próprios réus. Portanto, considerando que a mentira foi a única coisa que o Diabo inventou, Deus deve passar a semana regando a mente de Alexandre de Moraes para, a partir dele, mostrar ao Brasil e ao mundo que toda mentira carrega a verdade sobre o caráter de quem mente. O jogo está jogado e já começa com 5 a 0. Caso recorram ao VAR, os bolsonaristas receberão como resposta o que eles mais detestam: Em mundo feito de mentiras, ser autêntico é um luxo que poucos têm.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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