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Com as mãos sujas de sangue, governadores usam mortos como voto

Unidos em torno de interesses pessoais muito mais importantes do que vidas humanas, os governadores da direita fecharam com o colega Cláudio Castro na narrativa de que a matança produzida gera votos. Levados apenas pelo significado de conhecimento empírico, eles estão certos. Baseado na experiência cotidiana e nas observações sobre o dia a dia, a vida do homem vale hoje menos do que um celular. Em alguns locais, como Rio de Janeiro e São Paulo, vale tanto quanto uma aliança, uma medalha de São Jorge ou uma tiara de Nossa Senhora Aparecida.

Nas comunidades e guetos dos principais estados do país, viver não é preciso, mas votar é obrigatório. Com titica na cabeça ou uma pedra no lugar do coração, hoje, amanhã e depois de amanhã a maioria dos governadores ligados ao conservadorismo e ao bolsonarismo só deseja transformar em campanha o resultado da operação dirigida por Cláudio Castro nos complexos da Penha e do Alemão. Pouco importa que as mãos tenham ficado enlameadas de sangue

O importante são os números. 117 cadáveres dão ibope, incomodam a esquerda e garantem apoio e votos. Querem tríade melhor do que essa para só pensar naquilo. As mãos sujas de sangue são apenas um detalhe. Independentemente dos efeitos colaterais, o que é um detalhe diante da possibilidade de se eleger senador da República. A retórica de combater o crime organizado não passa de um velho clichê para governadores como Ronaldo Caiado (GO) e Romeu Zema.

Caiado vive para ressaltar os números da violência na Bahia, estado onde Luiz Inácio recebeu mais votos na campanha presidencial de 2022. Enquanto lembra os dados baianos, ele deliberadamente esquece as alarmantes estatísticas goianas, principalmente as decorrentes dos municípios localizados no Entorno do Distrito Federal. É o roto esculhambado tentando atravessar o caminho do esfarrapado até aqui vitorioso.

E o que dizer de Romeu Zema? A não ser incluí-lo na lista de marias vai com as outras, quase nada. A bem da verdade, Zema e seus confrades da direita só querem saber dos cadáveres que dão mídia supostamente favorável. Todos os dias morrem dezenas de inocentes no Rio, em São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. E daí? Esse é o tal povo que morre para dar trabalho. Querem prova maior do que a catástrofe que foi o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana?

Na quarta-feira, 5, às 16h20, o desastre completa dez anos. Para quem não se lembra, 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério jorraram da estrutura, matando 19 pessoas, riscando do mapa pequenas comunidades e condenando para sempre o Rio Doce. Até hoje ninguém foi responsabilizado criminalmente pela tragédia. Há um ano, a Justiça Federal absolveu a Samarco e todos os demais denunciados. Isso o Romeu Zuma e seus amiguinhos não contam. Pelo contrário. Fingem que esquecem, pois cadáveres antigos não movem moinhos.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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