Tão triste como acompanhar a política brasileira por meio das páginas policiais é perceber que os deputados e senadores da atual legislatura esbanjam talento para o mal. Na verdade, para o bem deles. Para não usar aquela outra interjeição vulgar e informal, melhor dizer que o desejo dos dito cujos parlamentares é que o povo se exploda. Uma pena para os eleitores sérios, mas o Congresso comandado por Hugo Mota e Davi Alcolumbre, tendo como assessores alguns soldados de puliça e vários jegues sem ferraduras, lembra o Diário de um quase conto de fadas.
Ou seria um glossário de piadas tiradas do dia a dia do Parlamento? Prefiro as piadas. Vivente antigo do Parlamento, recomendo a todos os brasileiros uma visita guiada às duas casas dos horrores. Entretanto, sugiro que não levem carteira, cartões de crédito por aproximação, relógio e joias caras. Lá estando, não se assustem caso ouçam palavreado chulo saindo de um dos plenários, nos quais é comum ouvirmos adjetivos do tipo fedapê, corno, ladrão, bandido, arrombado, baitola, gay, boqueteiro, estuprador e punguista de braguilha, entre outros mais chulos.
Fiquem tranquilos meus caros eventuais visitantes, pois nada mais é do que a chamada nominal para a ordem do dia. Brasília ainda é uma cidade tranquila. Apesar da paz, os assaltos a mão armada ou via emendas parlamentares não são mais novidades na Capital da República. Soube que, durante esta semana, logo após a aprovação da PEC da Bandidagem, um ladrão foi assaltar um desses políticos carregados de integridade, probidade e honestidade.
Ao ouvir a célebre frase “Me passa o dinheiro”, o assaltado pediu calma e informou ao assaltante tratar-se de um deputado federal. “Ah, nesse caso, passe o meu dinheiro”. Soube por fontes palacianas que até os filhos de deputados e senadores têm vergonha de se apresentarem como tais. Nas perguntas de múltipla escolha, a molecada opta por nomear os genitores como dançarinos de boate gay. Me parece a forma mais rápida e fácil para explicar grandes volumes de dinheiro nas cuecas.
Eis a razão pela qual nenhum eleitor jamais viu um político organizando manifestações nas ruas, avenidas e praças do país com o objetivo de reivindicar melhores salários. Grande descoberta essa de, em lugar de enumerar projetos, contabilizar piadas tendo a política e os políticos como motes. Sei um caminhão delas. Sei, por exemplo, que os ladrões informais não atacam casas de políticos por uma única razão: cortesia profissional. Sei também que políticos são como fraldas, pois, pelo mesmo motivo, ambos precisam ser trocados regularmente.
A aprovação da PEC da Bandidagem e o projeto de anistia são uma clara demonstração de que o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan tinha razão ao considerar a política (segunda profissão mais antiga do mundo), muito semelhante à primeira. Qual delas merece mais respeito? Dito tudo isso, embora as use diariamente, não aprovo piadas políticas. Não aprovo porque já vi muitas delas serem eleitas. Não posso encerrar esta narrativa sem perguntar a meus leitores sobre a diferença entre dissolução e solução. Não sabem! Eu respondo: Se colocarmos um político brasileiro em um tanque de ácido para que se dissolva, será uma dissolução. Se colocarmos todos, será uma solução. Que tal a ideia?
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
