Por muitos anos, as redes sociais reproduziram uma foto do arquiteto Oscar Niemeyer acompanhada de uma legenda atribuindo a ele a seguinte frase: “Projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá foi como criar um lindo vaso de flores para vocês usarem como penico. Hoje, vejo tristemente que Brasília nunca deveria ter sido projetada em forma de avião, mas sim de camburão”. Embora tenha sido negada pelo bisneto do célebre arquiteto, Paulo Sérgio Niemeyer, o descrédito da classe política transformou a expressão em um superlativo difícil de ser contestado.
Fake ou não, a verdade é que a suposta tristeza de Niemeyer virou desprezo pela quase totalidade dos 584 congressistas eleitos em 2022. Tanto que os eleitores sérios e conscientes, seguidos por expressiva parcela da direita menos radical, decidiram mudar o simbolismo imaginado pelo criador da Capital Federal. Abarrotado de ratazanas, sanguessugas, parasitas e lixo em forma de parlamentares, o Congresso brasileiro de hoje é avaliado pela maioria da sociedade de forma muito mais eloquente. O penico imaginário se transformou em uma imagem verdadeira.
Vistos de cima, Câmara e Senado são o protótipo de um grande vaso sanitário. Se vivo fosse, certamente Oscar Niemeyer pediria pelo amor de Deus para que não dessem descarga. Por causa do volume de bostas nas duas casas, o risco de entupir seria iminente. E ainda dizem que o Parlamento é a casa do povo. Pode ser, mas precisamos urgentemente despejar os atuais inquilinos, sob pena de um dia eles se acharem donos do país. Digo isso porque, apesar de metade do monturo denominado Congresso ser incapaz e a outra metade capaz de tudo, ainda há moscas, ratos e baratas que defendem seus ocupantes.
Provavelmente o jornalista Millôr Fernandes se inspirou nesses brasileiros para criar uma de suas frases mais claras e persuasivas: “O Brasil é o único país do mundo em que os ratos conseguem botar a culpa no queijo”. O queijo somos nós que insistimos em eleger bandidos que, durante a campanha eleitoral, se apresentam como mocinhos. A fantasia dura somente até a posse. A partir daí, a vigarice e a vilania se revelam a olhos nus, surgindo deputados e senadores preocupados exclusivamente em se servir do Brasil e da população a que juraram representar.
Desprezível, abjeta e desprovida de caráter, boa parte dos congressistas vinculados ao Centrão e às legendas que não se envergonham da adjetivação bolsonarista precisa ser expulsa a pontapés. Aliás, derrotar em 2026 o pior Congresso da história do Brasil é uma questão de honra para os que realmente pensam e agem como patriotas. A ordem a ser cumprida é votar em que defende o povo e não seus interesses particulares. Sórdidas e defensoras do banditismo engravatado, suas excelências, com raras exceções, não trabalham e ainda obrigam o contribuinte a pagar condenados foragidos. Pior é protegê-los, como fizeram esta semana com Carla Zambelli.
Chamo isso de indecência, de escárnio legislativo. Nada de tão anormal para um Congresso no qual mais triste do que as emendas só mesmo o contexto. Evitar a cassação de Zambelli, de Eduardo Bolsonaro e de Alexandre Ramagem é legislar em causa própria, ou seja, garantir a sobrevivência. Fazendo minhas as palavras de um meme que recebi, se fizerem um pente fino no CPF dos bolsonaristas e dirigentes de partido não sobrará um, meu irmão. Como a Polícia Federal tem capacidade de alcançá-los, os chefões do Centrão e das legendas aliadas têm feito de tudo para asfixiar a instituição. Como veem, o camburão imaginado por Niemeyer não é todo fictício.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
