De acordo com a filosofia dos sábios, só alcançamos a perfeição da inteligência quando reconhecemos os limites de nossa própria ignorância. Ou seja, a inteligência humana tem fronteiras. Por isso, a estupidez é infinitamente mais fascinante do que a inteligência. A inteligência tem seus limites, a estupidez não. A ignorância não aceita divisas nem na sua irracionalidade característica. O pior é quando os supostos inteligentes se acham formadores de opinião e se utilizam de cargos públicos para incitar a violência extrema contra segmentos minoritários.
Escudados na imunidade, fazem isso por meio de discursos patéticos, covardes e absolutamente desprovidos de humanidade. Poderia incluir na lista de fundamentalistas sem causa a maioria dos pastores evangélicos e de boa parte dos parlamentares bolsonaristas que, por falta de projetos e de propostas, não conseguem se desvincular da bizarra figura do ex-presidente da República. Neste último dia do ano, a limitação de espaço me obriga a lembrar e a estender minha ira jornalística àqueles que, por ironia do destino, representam Deus e o Diabo nas mesmas casas de leis.
É o caso dos pastores deputados (ou seria o contrário) André Valadão e Marco Feliciano, ambos escondidos debaixo das ceroulas de Valdemar Costa Neto, líder maior do Partido das Lágrimas, o insipiente, inodoro, incolor, intragável e insosso PL. O primeiro responde a processo criminal por ter incitado, durante um culto, “seus” fiéis a matarem pessoas LGBTIa+ como se fosse uma espécie de missão divina. Feliciano, o fundamentalista do tipo Maria vai com as outras, defendeu Valadão e ainda misturou bizarrice com religião, comunismo, família, opção sexual e desancou o presidente Luiz Inácio, cujo crime foi destronar o “mito” de sua provinciana cadeira de rei das jazidas preciosas das arábias.
Para os trogloditas das igrejas de cura e de arrecadação nunca declarada, o deus dos horrores tinha de ser perpetuado na caixinha de fósforo sem pólvora, de modo a evitar que ele perdesse a cabeça durante um debate com os mais inteligentes. Segundo Valadão e Feliciano, as portas se abriram horrendamente para o casamento homoafetivo. É verdade. E não é sem tempo. Homossexualidade não é crime. Afinal, a hipocrisia não tem mais lugar na sociedade moderna, na qual todo ser humano tem o direito de ser o que bem quiser, inclusive achacador de pobres, ingênuos e cidadãos carentes da verdadeira palavra de Deus. Curiosamente é que, na cultura deles, que confundem religião com comportamento, o povo LGTBIA+ são seres abjetos.
A diferença é que nunca na história deste país um(a) homossexual precisou recorrer aos templos evangélicos para solicitar ajuda para sobreviver. Talvez fosse morto antes de adentrar ao recinto, onde a cura vale quanto pesa. No entanto, a recíproca não é verdadeira. É público e notório a forma como as lideranças e os pastores com maior dose de expertise no conto do encontro com Jesus enriquecem. O achaque à população inculta é feito com a mesma facilidade aplicada pelos pastores nas estúpidas, insensatas e descabidas “crônicas” radiofonizadas contra o governo e a sociedade que os ignora.
Inquestionavelmente, Deus existe e, independentemente do bordão do presidiário Messias, está realmente acima de tudo e de todos. É por isso que creio firmemente na lei de causa e efeito. Eu, a torcida do Flamengo, os passistas da Mocidade Independente de Padre Miguel, as meninas do Lar Maria Machadão e os médiuns do Centro Espírita Casa do Pai Inácio temos certeza de que um dia será cobrado dos adoradores de “São Dólar”, “São Euro” e de “São Salomão” (o rei dos templos evangélicos) tudo que eles tiraram criminosamente do povo. E este dia, o Dia D, está mais próximo do que eles imaginam. Aleluia, saravá, axé, shalom, salamaleico, namastê ou amém? Pouco importa a saudação. Importante é que aqui se faz, aqui se paga. O diabo começou a cobrança por Sóstenes Cavalcante. Muitos outros virão. Oremos!
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras