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Doce aroma da cana nordestina volta a girar o motor do progresso

Na planície quente do agreste, onde o sol amadurece a cana e o suor dos homens vira açúcar e álcool, uma notícia correu como vento em canavial seco: o governo federal decidiu aumentar para 30% a adição de etanol à gasolina. Uma medida técnica, diriam os engravatados de Brasília. Mas, para os usineiros do Nordeste, soou como hino de redenção.

Na pequena cidade de Moreno, em Pernambuco, onde o apito da usina acorda os galos e embala os domingos, Seu Agenor, mestre de moenda e contador de causos, escutou a notícia no radinho velho encostado à parede da tulha. Não se conteve: “Agora vai!”, gritou, espantando as galinhas e trazendo dona Zuleide à varanda, ainda com o avental sujo de goma.

A decisão, mais que um número, representa um alento a uma cadeia produtiva que vinha tropeçando entre safras escassas, preços voláteis e concorrência predatória. Com a nova mistura, o etanol nordestino — filho legítimo da cana de sol e do trabalho braçal — ganha passaporte garantido para circular nos tanques dos carros brasileiros.

As destilarias, muitas das quais andavam meio enferrujadas, com caldeiras frias e operários migrando para outros sertões, agora se preparam para girar a todo vapor. O cheiro de fermentação volta a dominar o ar nas madrugadas. O emprego, que andava escasso como chuva em agosto, começa a bater de novo nas portas das casas simples de barro e esperança.

Os usineiros, antes cabisbaixos em reuniões cheias de planilhas e dívidas, erguem os olhos com brilho renovado. Estão animados, sim, mas não apenas por lucro. Sentem que, enfim, o Nordeste da cana está sendo olhado com seriedade estratégica, não só como peça de folclore agrícola.

Claro, há quem torça o nariz. Os puristas do petróleo, os defensores do carro elétrico instantâneo, os céticos de prancheta. Mas aqui, onde o canavial é poesia e economia, cada litro de etanol é suor destilado — é autonomia energética com sabor de rapadura e futuro.

A decisão do governo é acertada. Une matriz limpa com incentivo regional. Movimenta o campo, aquece a indústria e coloca o Brasil na estrada da sustentabilidade sem esquecer suas raízes. Porque, afinal, que país quer avançar deixando para trás o povo que faz crescer o que se planta?

Na encruzilhada entre o passado da monocultura e o futuro da bioenergia, o Nordeste escolhe caminhar com os pés fincados no barro fértil da cana — e com os olhos postos no horizonte onde o motor ronca e o etanol brilha.

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