Cômicos não fossem trágicos, os políticos de nosso tempo, mas precisamente do tempo criado por Jair Bolsonaro e seus comandados, têm saúde de ferro. Como até o ferro enverga nos dias de fogo pelas costas, eles só não podem sentir o cheiro da polícia e o peso do martelo dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Longe dos homi e ao lado de seguidores dispostos a tudo para manter o status quo, os malandros correm, discursam, abraçam eleitores, xingam adversários e dão ordens como se fossem atletas olímpicos.
Ao primeiro sinal de prisão, começa o reality show acertado com advogados, médicos e parlamentares do staff da bandalheira. De condenados a longas e penosas férias na Papuda ou similar, as excelências logo se travestem de pacientes vips dos melhores hospitais da cidade, sempre sob os olhares atentos dos roteiristas de novelas do horário nobre da Globo Lixo, temporariamente chamados pela família de médicos. Qualquer semelhança com aquele ex-presidente não é mera coincidência.
Pior são os adoradores convocados pela bancada autoimune à prisão por qualquer tipo de crime, inclusive o de estuprar a paciência do povo, furtar o voto do eleitor sem neurônios e de roubar na mão grande o dinheiro do contribuinte. Após ouvir a leitura do laudo produzido liturgicamente pelos doutores regiamente pagos com o meu, o seu, o nosso rico dinheirinho, o gado chora, esperneia, xinga Lula de ladrão, Alexandre de Moraes de vilão e o falecido papa Francisco de malvadão.
O quadro pintado pelos médicos gera as mais estapafúrdias reações. A pedido dos pastores Silas Malafaia e Sóstenes Cavalcante, alguns se debulham em correntes de orações. Os mais abonados dedilham o Whatsapp, disparando PIX em nome de 01, 02 e 03. O 04 fica de fora porque ele ainda não entende o pavor do pai pelas quatro paredes do quartinho de dois por dois e meio. Dizem as línguas ferinas da oposição que esse tipo de doença é novo e, portanto, não faz parte da literatura médica.
Será a prisãofobia? Seja lá o que for, tentemos sugerir ao ministro Alexandre de Moraes a liberdade provisória do homem, inclusive com a possibilidade do fim da inelegibilidade política. Duas horas serão suficientes para que ele vá, a pé, da Avenida Paulista à orla de Copacabana gritando para seus seguidores que o mito voltou. Como Xandão é Flórida, já mandou seus assessores avisarem ao povo de jaleco branco e advogados da parte em questão que na Papuda tem enfermaria e médicos 24 horas por dia.
Ou seja, vitimismo e mimimis combinados não colam mais. Só para ilustrar, ficar dez segundos sem respirar e ter soluços continuados não matam ninguém. Se matasse, a Covid teria causado um número de óbitos bem superior aos oficiais 700 mil. No auge da pandemia, os brasileiros que ficavam sem ar ou soluçavam viravam vítimas das galhofas do então presidente e de seus familiares. Como o próprio dizia à época, todos vamos morrer um dia. Portanto, chegou a hora de o Brasil deixar de ser “um país de maricas”. Para os que se acham superiores, soberbos acima do bem e do mal, vale lembrar que, assim como Jair não foi, os brasileiros não são coveiros.
………………
Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
