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Duas maranhenses em Recife (uma perdeu a calcinha…)

Neide e Salete, conterrâneas da terra de Gonçalves Dias, se conheceram ainda crianças. Quando completaram idade para casar, preferiram a liberdade e se mudaram para Recife. Mais despachada, Neide arrumou emprego numa mercearia incrustada no bairro de Boa Viagem. Não tardou, arrumou uma vaga para a amiga.

As duas, que entravam bem cedinho, não raro, fechavam o estabelecimento após o último cliente. Logo ganharam a confiança dos patrões, Lúcia e Emílio, casados há quase 20 anos. A esposa, expansiva, trocava confidências com as maranhenses. Já o marido, mais reservado, preferia manter a mente focada no movimento do caixa.

Neide, namoradeira que nem ela só, foi a que mais se aproximou da patroa. Salete, contida, raramente ia além de sorrisos. Bastava um pequeno momento de calmaria na loja para as três mulheres se unirem.

— Tem namorado, Salete?

— Tenho nenhum.

— E você, Neide?

— Tenho todos.

A patroa se divertia com as aventuras amorosas da Neide. Além do mais, a maranhense era ótima com os clientes, que acabavam enchendo as sacolas de produtos da loja. Com o faturamento nas alturas, tudo parecia ótimo. Até que, certo dia, a coisa degringolou.

Lúcia chegou bem cedo à mercearia. As duas funcionárias, com clientes para atender, apenas cumprimentaram a patroa. Nada do Emílio, que sempre ia com a esposa.

Lá pelas tantas, a clientela deu uma trégua e, então, Lúcia chamou Salete e Neide para conversarem. As duas foram até o caixa, onde perceberam a fúria nos olhos da patroa.

— O que houve, dona Lúcia? Aconteceu alguma coisa com o seu Emílio?

— Salete, você acredita que o safado me traiu com uma rapariga?

— Não acredito! O senhor Emílio sempre me pareceu ser um homem tão distinto.

— Pois é, o canalha me traiu com outra. Ai se eu pego aquela meretriz!

— E quem é?

— Não consegui ver a vagabunda, Salete. Mas olha aqui a calcinha da desqualificada.

— Que coisa, né, dona Lúcia?

— Sim, Neide. A minha vontade é de matar aqueles dois!

— Calma, dona Lúcia. Melhor deixar isso pra lá. Homem é tudo igual mesmo. Nenhum presta.

A conversa foi interrompida, pois o Armando, antigo freguês, entrou na mercearia. O homem não entendeu o olhar de desaprovação daquelas três mulheres em sua direção. Tratou logo de comprar a dúzia de ovos que a esposa havia lhe pedido e voltar para casa antes que algo de pior acontecesse.

Final do dia, Neide e Salete fecharam a loja. Lúcia já havia retornado para o lar, doce lar. Mais calma por conta da conversa com as funcionárias, estava decidida a ter uma conversa bem séria com o marido. Ou ele se aprumava ou, então, seria o fim da linha para o homem.

E lá estavam as maranhenses sentadas no ônibus a caminho do pequeno apartamento que dividiam. Neide, muda que nem defunto, olhava as ruas através da janela.

— Que coisa, né, Neide? A dona Lúcia tá que nem siri na lata.

— É.

— Nunca imaginei que o seu Emílio fosse capaz de aprontar uma dessas com a dona Lúcia.

— É.

— Mulher, o que você tem? Só fala é, é, é!

— É que eu gostava tanto daquela calcinha.

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