Notibras

Em tempos sombrios, os piores perdem o medo e os bons a esperança

Fora da órbita natural da Terra, o planeta Brasil mudou por conta própria o curso da relação política, humana e de poder entre as pessoas. Não faz muito tempo que isso ocorreu, mas tudo indica que a mudança ainda levará anos, talvez décadas para que se recomponha. Para que voltássemos ao referencial de antes, o primeiro passo seria recuperar os debates sobre propostas, parcerias e ideias voltadas para o bem comum. Hoje, para desprazer de todos, inclusive dos negacionistas, as discussões são apenas ideológicas, divisionista, de rompimento de correntes familiares e partidárias e, em alguns casos, de desejo da morte física de adversários.

É preciso desenhar, fazer uma poesia, faixas, cartazes ou uma canção explicando para os representantes da esquerda, da direita, da extrema-direita, particularmente para os “patriotas”, demagogos, aproveitadores da nação e enganadores do povo que o buraco negro que se aproxima não caberá toda população do país. Hoje, sem margem alguma de erro para cima ou para baixo, faço parte do grupo de brasileiros que, ao mesmo tempo e com a mesma ênfase, têm nojo dos deputados e senadores que só pensam nos próprios interesses e dos apaniguados que trabalham exclusivamente para achincalhar os verdadeiros patriotas.

Estejam vinculados a qualquer corrente partidária ou ideológica, os presidenciáveis, governadores, ministros de tribunais superiores e, principalmente, parlamentares precisam mudar a toada. Eles carecem da informação de que, caso continuem tocando o gado com mentiras e pouco caso, um dia os brasileiros ainda subirão nas tamancas e perceberão que, quanto menos apostarem em políticos medíocres, corruptos e mentirosos, em leis que não servem para nada e na elite enfadonha e louca para o mundo acabar em melado, melhor dormirão à noite.

Me utilizando da tese da filósofa e política alemã Hannah Arendt, tenho pouca ou nenhuma dúvida de que vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança. Como acreditar em um país onde as grandes fortunas, incluindo o pessoal do agronegócio, se lambuzaram – e lambuzam – do dinheiro do contribuinte? Como respeitar os que plantam e colhem com recursos do governo federal, mas criticam o governante quando, por alguma razão, experimentam eventuais prejuízos?

O pior é usar recursos públicos, mas criticar propostas tributárias capazes de conter as baixas no Orçamento. Pior ainda é a cara de pau de utilizar o dinheiro de um governante, mas apoiar publicamente o adversário derrotado. É a prática preferida dos agropecuaristas que adoram pedir a Luiz Inácio, mas amam bajular Jair Bolsonaro. Profissionais das filas dos caixas do Ministério da Agricultura, do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica, eles acumulam dívidas com a União e não se acanham quando a ordem do dia dos bastidores é alcunhar Lula de ladrão. Muito mais do que mal-agradecidos, os barões do agronegócio são raivosamente pendulares. Que o digam os gaúchos.

Por ocasião da primeira enchente no Rio Grande do Sul, em 2024, o presidente Lula não perguntou sobre a ideologia do governador, do prefeito ou dos pequenos, médios e grandes empresários atingidos. Cumprindo sua obrigação de gestor, ajudou além do necessário. O tempo passou, o governador, o prefeito e a gauchada voltaram a lamber as botas de Bolsonaro e, mais uma vez, Deus puniu os ingratos. Nova enchente este ano e novamente o socorro da União. Essa é uma das principais razões que me levam a fazer coro com os pensadores, para os quais se pagássemos menos aos políticos e mais aos professores teríamos pessoas mais inteligentes e menos leis ruins. Como diz um famoso humorista gaúcho, povo medíocre e sem consciência, não me faça pegar nojo!

Sair da versão mobile