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Era Digital redesenha os laços sociais no Nordeste

Em praças de cidades como Recife, Salvador e Fortaleza, é comum ver grupos de amigos sentados lado a lado, cada um com o olhar fixo na tela do celular. A promessa da tecnologia era aproximar pessoas — mas, na era da hiperconectividade, cresce a sensação de proximidade virtual e distanciamento emocional.

O avanço dos smartphones e das redes sociais transformou a convivência no Nordeste. Apesar de uma conectividade crescente, pesquisas mostram que o contato presencial vem diminuindo.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2023), 58% dos jovens nordestinos passam mais de 5 horas por dia online, enquanto o tempo dedicado a encontros presenciais caiu cerca de 18% na última década.

“Os jovens estão sempre conectados, mas há uma perda de profundidade nos relacionamentos. É mais fácil mandar um emoji do que conversar sobre sentimentos”, explica a psicóloga social Dra. Mariana Lima, de Salvador.

Redes como WhatsApp, Instagram e TikTok encurtam distâncias, mas também aumentam comparações e ansiedade social. Em cidades nordestinas, esse fenômeno se manifesta nas conversas familiares e nas interações entre amigos: mensagens rápidas substituem diálogos longos e presenciais, mesmo em reuniões que antes eram cheias de histórias e risadas.

Segundo estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC, 2024), 64% dos jovens entrevistados relataram sentir solidão mesmo interagindo diariamente nas redes sociais, revelando que a conexão digital não substitui o contato humano.

A hiperconectividade não afeta apenas a esfera individual. As famílias nordestinas, tradicionalmente próximas, agora convivem com:

•Jantares com celulares à mesa, substituindo conversas;

•Relacionamentos mediados por mensagens, em vez de encontros presenciais;

•Ansiedade digital, comum em quem sente necessidade constante de checar notificações.

Fenômenos como FOMO (medo de estar perdendo algo) e nomofobia (ansiedade por ficar longe do celular) também estão em ascensão entre jovens em capitais como Natal e João Pessoa.

Apesar do cenário, iniciativas regionais buscam reaproximar as pessoas do convívio real. Escolas de Salvador promovem “dias sem celular” e cafés culturais em Recife incentivam encontros presenciais, fortalecendo vínculos que vão além das telas.

“Precisamos reaprender a estar juntos de verdade. O Nordeste tem uma tradição de convívio forte, mas a tecnologia pode enfraquecer isso se não houver equilíbrio”, alerta Mariana Lima.

A hiperconectividade transforma os laços sociais no Nordeste. Conectar-se digitalmente é inevitável, mas a maior riqueza está na conexão cara a cara, preservando a tradição de convivência e calor humano que caracteriza a região.

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